A tecnologia sobre a qual vos quero falar já atingiu um ponto que põe em risco a existência humana. A forma desgovernada como gerimos a sua evolução antecipa um momento em que perderemos o seu controlo. Dia após dia, integramo-la no nosso quotidiano e até no corpo, aceitando esta “fusão” tecnológica, na maior parte das vezes de forma inconsciente e sem plano de reversão. Como em todas as tecnologias de ponta, os benefícios a curto prazo ofuscam os riscos a longo prazo, e assim a aceitamos.
Esta é a realidade com que lidamos há 118 anos, desde o advento dos polímeros, os conhecidos plásticos modernos. Não existe lugar na Terra livre deste material — do fundo da Fossa das Marianas ao topo dos Himalaias. Descartamos plásticos com indiferença, por serem baratos, abundantes e muitas vezes de uso único.
A nossa dependência dos plásticos é tão grande que o futuro sem eles parece impossível. Tornar o seu uso sustentável passa por valorizar e recuperar todo o plástico descartado, como já acontece com alumínio ou vidro.
Porém, a reciclagem de plásticos tem custos adicionais relacionados com a colecta, triagem, lavagem e processamento dos resíduos, bem como da infraestrutura necessária, o que torna o plástico reciclado até 1,6 vezes mais caro que o virgem. Além disso, o preço do petróleo, matéria-prima, influencia a competitividade do plástico novo, que se torna mais barato quando o preço do petróleo baixa.
Assim, a valorização efectiva de todo o plástico, especialmente aquele nas cadeias mais baixas da triagem, só é possível criando processos para o converter novamente em petróleo, mais especificamente óleo de pirólise, mas infelizmente ainda não existe um método energeticamente viável para o fazer.
Tecnologias como a pirólise e a fusão nuclear prometem soluções para a crise energética, mas estão longe de ser uma realidade e muito menos de ter uma aplicabilidade universal. Com os limites do abuso do plástico já ultrapassados, urge duplicar esforços para conter o seu consumo e recuperar o que já espalhámos pelo planeta.
Com os plásticos, tal como com a tecnologia, continuamos a consumir muito para lá do que é sustentável, na esperança de que no futuro surja um “milagre” tecnológico que nos permita reverter este abuso, quando, na realidade, seria muito mais fácil — mas menos cómodo — prevenir já os danos que estamos a causar a nós próprios e ao planeta.