Com a chegada do mês de Junho, Lisboa volta a transformar-se num palco de tradições, cheiros e multidões. E, se tudo correr como nos anos anteriores, também vai cheirar a bateria a 8% no smartphone, QR codes impressos em papel gorduroso e apps que prometem fazer tudo, mas que não servem para nada quando a rede cai em Alfama.
Numa tentativa de digitalizar a tradição, já tivemos apps para saber onde estão as marchas, para votar na melhor sardinha, ver a agenda dos arraiais, e, até, para pedir manjericos com poemas generativos criados por IA – isto já aconteceu. O que não aconteceu foi um reforço real da infraestrutura de rede ou algo simples como uma app que nos diga: «Aqui tens sombra e uma cerveja fresca a menos de dez metros».
A aplicação ideal não precisa de inventar tradições digitais. Precisa, sim, de facilitar a experiência dos milhares de visitantes que percorrem as ruas estreitas da cidade agora adornadas com T&T – turistas e TVDE. Seria um bom começo oferecer informação em tempo real sobre sanitários mais acessíveis ou localização de grupos de amigos. Ou utilizar realidade aumentada aplicada à leitura de elementos culturais e históricos presentes nos bairros mais tradicionais.
Digitalizar as Festas de Lisboa não tem de despersonalizar o que elas representam, nem tem de fazer de conta que estamos num festival na Suécia. A app do Santo António que eu gostaria não é uma app. É uma experiência que funcione, que una o melhor dos dois mundos: o caos da Mouraria com a ordem dos dados. Talvez um dia cheguemos lá. Entretanto, se vir um manjerico com NFC, diga-me qualquer coisa. Pode ser que dê pontos no Continente.