O manifesto artístico dos tokens não fungíveis

Por: André Gonçalves
Tempo de leitura: 3 min
Kerfin7/Freepik

Identificadores únicos de um bloco de dados que apenas uma entidade pode deter: os NFT são a derradeira forma de reconhecimento de todo o tipo de arte digital. As peças de arte tradicionais ganham reconhecimento e valor pela sua legitimidade e unicidade. Um quadro de Van Gogh ou uma escultura Michelangelo agregam um enorme valor ao seu proprietário, não tanto pelo conteúdo percepcionável dos mesmos, como objetos, mas sim pelo facto de serem únicos e insubstituíveis.

Essa característica não fungível da arte tradicional não estava, até há pouco tempo, disponível para qualquer tipo de manifestação artística digital, pois pela sua natureza podiam ser infinitamente reproduzidas e replicadas, sem qualquer perda ou identificação de origem.

Os NFT, de que agora tanto se fala, são os certificados de unicidade garantida por uma blockchain, que permite que qualquer criador de conteúdo digital venda um conteúdo como o original, agregando o valor dessa originalidade da arte a quem possuir esse token.

O possuidor de um NFT não consegue desfrutar da arte de uma forma distinta de qualquer outra pessoa que a consulte na blockchain. Apenas tem a capacidade única de transferir o seu direito de posse para outra entidade. Da mesma forma como o proprietário de uma pintura tradicional, não ganha quaisquer direitos conexos ou possibilidade de venda de reproduções. O autor mantém todos benefícios para além da posse virtual da peça de arte.

Apesar de um artista não estar impedido de produzir infinitas cópias de uma mesma arte, validando-as com diferentes NFT, a natureza colectora e possessiva da humanidade levou já várias pessoas a pagar milhares de euros por representações digitais de imagens, músicas e até mesmo tweets.

Os NFT não são, propriamente, uma novidade: mesmo antes das criptomoedas, o conceito já existia. Mas até se integrar os NFT numa blockchain, não era realmente possível reconhecer o valor universal da originalidade de uma peça digital.

É bom, finalmente, termos encontrado uma forma de dar o reconhecimento devido a todos os artistas que produzem conteúdo puramente digital, especialmente pelo facto da gestão do mesmo ser feito de uma forma descentralizada e sem uma dependência única, para assegurar a continuidade do registo do mesmo. Mas, ao mesmo tempo, não deixo de olhar de uma forma bastante desconfiada para os valores a que estão a ser transacionados alguns NFT e como estão a ser encarados como um investimento de futuro.

 

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Se não pensares nisso, alguém vai fazer-lo por ti.
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