Vivemos numa era em que a inteligência artificial deixou de ser uma curiosidade futurista para se tornar um factor determinante nas dinâmicas humanas mais fundamentais. A sua influência sobre os três recursos mais preciosos da humanidade (tempo, conhecimento e dinheiro) é profunda ambivalente e irreversível. No que toca ao tempo, a IA cria um fascinante paradoxo. Por um lado, liberta-nos de tarefas repetitivas e morosas – traduz textos em segundos, analisa bases de dados gigantescas em instantes, responde a mensagens e agenda reuniões. Automatiza o trivial e aparenta devolver-nos as horas para viver o essencial. No entanto, esta mesma aceleração pode gerar uma nova escravidão: a pressão de estar sempre produtivo, de fazer mais com menos tempo, esvaziando o ócio e a contemplação. A IA poupa tempo, mas exige mais em troca.
Quanto ao conhecimento, a IA democratiza e desmistifica o acesso à informação. Teoricamente, qualquer pessoa com acesso à Internet pode “dialogar” com um tutor digital que interpreta, sugere e nos orienta, com base em conhecimentos, em todas as áreas de estudo da humanidade. Quando nos habituamos a respostas automáticas, podemos perder o hábito de questionar, de pensar criticamente e de construir conhecimento através da dúvida. A IA informa, mas nem sempre ensina a aprender.
Por fim, o dinheiro. A inteligência artificial é, simultaneamente, uma fonte de criação e de concentração de riqueza. Empresas que dominam esta tecnologia crescem de forma exponencial, enquanto certos empregos se tornam obsoletos. O capital move-se mais depressa que as políticas e o fosso aumenta entre quem tem acesso à IA e quem dela é excluído. Por outro lado, pequenos negócios podem, agora, competir globalmente com ferramentas acessíveis e inteligentes. A IA redistribui o jogo, mas não o torna automaticamente justo.
Independentemente do envolvimento que tenhamos com a IA, estes três recursos desenvolvem-se mutuamente pela conjugação de dois deles para aumentar o terceiro: a inteligência artificial não é boa, nem má: é poderosa. Cabe-nos decidir como queremos usá-la: como um espelho que amplifica os nossos valores ou como uma sombra que nos ofusca. O tempo, o conhecimento e o dinheiro continuam a ser nossos. O que faremos com eles, agora com a IA ao nosso lado, é a verdadeira questão.