Desde que o ChatGPT se “espalhou” no final de 2022, o modo de navegar na Internet começou a mudar de forma silenciosa. Até há pouco, o paradigma era simples: o utilizador pesquisava, o motor de busca devolvia links, clicava, visitava sites, os anunciantes pagavam, o criador de conteúdo recebia e a economia da Web girava. Hoje, essa festa está a acabar.
A partir do momento em que os modelos de IA começaram a responder às perguntas do utilizador sem este nunca visitar o site original, o modelo económico da Web aberta sofreu um abalo substancial. Dados recentes indicam que sumários gerados por IA no topo dos resultados de busca —os designados ‘AI Overviews’ — podem provocar quedas de tráfego entre 50 e 80% para sites de notícias e conteúdos tradicionais.
Não se trata apenas de uma questão técnica ou de usabilidade: é uma questão de sustentabilidade da Internet como espaço aberto, plural e vivo. Muitos editores alertam que os seus conteúdos são usados para alimentar esses modelos, sem cliques de retorno, sem atribuição adequada — e sobretudo, sem remuneração. Em bom português, ‘se não há dinheiro, não há palhaço’ e se estes deixam de produzir conteúdo, será o definhar da tão própria diversidade da Web.
Soluções precisam-se, e algumas empresas começam já a propor caminhos — desde cobrar o acesso dos bots, até partilhar receitas com plataformas de IA ou promover novas formas de interação com os humanos. O que parece certo é que o modelo de negócio que sustentou a Web nos últimos vinte anos está perto do fim. E quando o clique deixar de pagar a conta, o que se perde não é só tráfego — é transparência e autoria.