Numa altura em que a indústria se move em direcção dos browser que incluem agentes que fazem muitas coisas em nome dos utilizadores e a companheiros de IA mais humanos, como o novo Atlas da OpenAI e os mais recentes modelos Claude da Anthropic, a Microsoft quer que o Copilot continue a ser o assistente principal em que as pessoas confiam para o trabalho, a aprendizagem e as tarefas digitais diárias. Para isso, a Microsoft lançou grandes actualizações para o assistente digital Copilot, que incluem a introdução do Mico, um avatar animado que dá um toque humano à IA da empresa, reagindo com expressões em tempo real durante as interacções de voz ao jeito da Cortana e do Clippy, o malogrado assistente que foi integrado originalmente no Office 97 e que foi removido em 2004.
Existem novas funcionalidades que tornam o assistente mais interactivo e mais adequado para a colaboração. Os utilizadores podem agora trabalhar em espaços partilhados chamados ‘Grupos’, permitindo que até 32 participantes editem documentos em conjunto, façam brainstorming e a gestão de projectos em curso. A nova memória de longo prazo do assistente permite-lhe reter detalhes sobre tarefas, listas e preferências, ajudando o Copilot a recordar conversas anteriores e a consultar informações quando os utilizadores regressam a um projecto.
“É absolutamente essencial que um companheiro tenha memória”, disse Ella Steckler, gestora de produto de IA da Microsoft. “Com a memória de longo prazo do Copilot, este capta naturalmente detalhes importantes e lembra-se deles muito depois de a conversa ter terminado.”
A Microsoft expandiu as capacidades multiplataforma do Copilot para incluir o Outlook e as aplicações de produtividade da Google. No browser Edge, o Copilot pode, com a permissão do utilizador, aceder a separadores, resumir e comparar informações e até executar tarefas como reservar viagens. As pesquisas anteriores também podem ser organizadas em “histórias” (storylines), permitindo que os utilizadores revisitem tópicos ou projectos mais antigos.
As novas funcionalidades, que vão ser disponibilizadas primeiro aos utilizadores nos Estados Unidos, serão lançadas no Reino Unido, Canadá e outras regiões nas próximas semanas. A Microsoft afirmou que também foram feitas melhorias na forma como o Copilot lida com questões relacionadas com a saúde, colocando mais ênfase na consulta de informações médicas credíveis para combater o risco de desinformação.
O melhoramente mais notável é o Mico, o avatar virtual que, de acordo com a Microsoft, confere ao Copilot uma presença mais pessoal e expressiva durante as conversas. O personagem animado, cujo nome é um jogo de palavras com “Microsoft Copilot”, expressa emoções e muda de cor enquanto conversa com os utilizadores.
“É algo que pode ver, que reage enquanto fala com ele”, disse Jacob Andreou, vice-presidente corporativo de produto e crescimento de IA da Microsoft, ao site The Verge. “Se falar sobre algo triste, verá as suas expressões faciais reagirem quase imediatamente. Toda a tecnologia desvanece-se no fundo, e simplesmente começa a falar com o avatar e a construir uma ligação com ele.”
O Mico opera principalmente em modo de voz e está ativado por defeito para utilizadores nos EUA. Baseia-se na nova capacidade de memória do Copilot para recordar detalhes pessoais e informações contextuais de interacções passadas. A Microsoft também está a introduzir um modo “Aprender ao Vivo” (Learn Live) que transforma o Mico num tutor interactivo, usando quadros brancos e prompts visuais para guiar os utilizadores através de tópicos como o estudo de línguas ou revisões da matéria dada. A abordagem baseia-se parcialmente no diálogo socrático — incentivando o envolvimento através de perguntas guiadas em vez de respostas directas.
O Mico é uma continuação das longas experiências da Microsoft com assistentes digitais. Há quase três décadas, a empresa introduziu o Clippy no Microsoft Office como uma funcionalidade de ajuda que rapidamente se tornou infame pelas suas interrupções. Uma tentativa posterior ocorreu em 2014, quando a Microsoft lançou a Cortana, primeiro para Windows Phone e mais tarde em PC com Windows 10. Apesar do entusiasmo inicial, a Cortana nunca ganhou adesão generalizada e foi oficialmente descontinuada para o Windows 11 em 2023.
Desta vez, a Microsoft aposta que os avanços nos modelos de linguagem natural e na animação em tempo real ajudarão a superar o desafio persistente de fazer com que os computadores de conversação pareçam intuitivos em vez de intrusivos. “O Clippy andou para que pudéssemos correr”, gracejou Andreou. A empresa até deixou uma referência à sua história enterrada no novo software — Andreou sugeriu que há um Easter egg que aparece “se clicar no Mico muito, muito rapidamente.”
O lançamento do Mico também se enquadra numa visão mais ampla delineada pelo director de IA da Microsoft, Mustafa Suleyman, no início deste ano. Suleyman disse que o Copilot ia desenvolver uma identidade visual e comportamental consistente — “uma presença“, como descreveu — e que ia “viver” num ambiente definido que evolui ao longo do tempo.
O Mico faz parte dessa estratégia, dando ao assistente de IA da Microsoft uma identidade visual enquanto a empresa promove os PC com Windows 11 como “o computador com que se pode falar”. A campanha destaca o esforço mais amplo da Microsoft para normalizar a interacção baseada em voz com computadores, um conceito que teve dificuldade em consolidar-se durante a era Cortana, mas que agora beneficia de tecnologias de IA generativa muito mais poderosas.