As indústrias mais lucrativas são as que criam mais problemas. As mais disruptoras, criam novos. Que tipo de empresa será a que tem um produto perfeitamente funcional, mas que vai forçar centenas de milhões de pessoas a adquirir um novo? Tenho alguns nomes coloridos para isto, mas não os posso dizer.
Não quero mudar para o Windows 11. Tenho um computador perfeitamente funcional e um sistema operativo capaz (até mo inutilizarem numa actualização que não pedi) e não quero comprar um novo só para ter funcionalidades que servem mais os objectivos da Microsoft que os meus.
Há já muito tempo que a mudança é uma estratégia comercial. Não basta ter um produto de qualidade, é preciso que se torne obsoleto num ciclo de mercado definido para que os consumidores comprem o novo modelo. Quem tem um iPhone sabe do que estou a falar. Ou uma máquina de lavar. Ou uma televisão.
O contrato que fazíamos com as marcas era a aquisição de um produto que funcionasse e durasse a vida toda. Ou, pelo menos, dez a quinze anos. Com a evolução tecnológica dos sistemas analógicos (em que bastava mudar uma peça) para a caixa negra do digital (magia negra) perdemos o controlo sobre o que é, teoricamente, nossa propriedade. Neste momento, funcionamos numa espécie de leasing a preços de compra.
Daqui a seis meses, o Windows 10 vai deixar de ter apoio técnico, apesar de 50% dos utilizadores ainda o usarem. Se existem 1,6 mil milhões de computadores no mundo com sistemas operativos da Microsoft, são oitocentos milhões de PC que irão perder a validade.
A disrupção (uma palavra feia e tão abusada por empresas totalmente baunilha) faz bilionários. Esta interrupção forçada vai criar toneladas de lixo electrónico, problemas de produtividade nas empresas e gastos desnecessários durante uma possível recessão económica, apenas para a Microsoft nos espetar com o Copilot no sistema. Quem ganha com isto?
Estamos à mercê das manias dos gestores das tecnológicas. Há muito tempo que não somos utilizadores. Somos apenas (ab)usados.