Tendo inúmeros amigos e conhecidos no universo tecnológico, a discussão amigável é bastante comum, sobretudo à volta da indústria e da inovação. Mas, talvez, eu não seja o nerd típico que se centra neste assunto – as minhas preocupações estão mais perto da base da pirâmide de conhecimento que, propriamente, do topo. Faz muito tempo que deixei de acreditar no ‘não se deixa ninguém para trás’: é inevitável que, em matéria de ensino, se deixe alguém para trás. A estratificação da sociedade assim o dita (mas, piedosamente, quem toma decisões faz-nos crer que não é verdade que isso aconteça). Ficará sempre alguém para trás. E refiro-me à literacia tecnológica. Conheço bem o edifício educativo português.
Apesar de nos cantarem odes fantásticas relativamente à educação, em si mesma, ou da área tecnológica, tenho imensas evidências sobre alguns falhanços de excelentes intenções. A começar pelos próprios agentes de formação, os professores. Sei bem que não é possível (nem nunca será), começar uma geração de formadores do zero absoluto. Durante anos foi, até, penoso para uma enormíssima quantidade deles “mergulhar” na tecnologia, por duas razões: não tinham quem os formasse, o que fez com que muitos tivessem enveredado pela via autodidata; e (bravo!) muitos deles não quiseram soçobrar a gerações de alunos que positivamente os conseguiam “esmagar” com toda a prática obtida em plataformas mais ou menos emergentes e até no próprio mercado de consolas.
Mas isto são os professores que vão sendo substituídos, à medida que se vão aposentando, por colegas mais apetrechados nesta área específica do saber. E os alunos? Também vão sendo substituídos nos degraus da escadaria lectiva, mas partem mais ou menos de um zero absoluto (e, aqui, a diferença faz-se no que se aprende no seio familiar e depende da tecnologia de que dispõem). Mas será que estamos a formar pessoas que serão tecnologicamente aptas? As minhas incursões no país real mostram uma nação a várias velocidades. Aquilo que temo é que se esteja a considerar ‘tecnologicamente apto’ tornar alguém autónomo e auto-suficiente com meia dúzia de ferramentas standard. E se, no passado, ‘ferramentas standard’ eram as do Office, hoje já não o são. E as necessidades, daqui a vinte anos, não passarão de certeza absoluta por um package de escritório. Teremos exércitos de pessoas formadas na óptica do utilizador? Duvido.