Quer queiramos, quer não, vamos ter de o fazer. E qual é o problema? Se já sem telemóveis corremos o risco de não podermos participar na sociedade de consumo (tentem fazer compras ou ir a espectáculos sem smartphone, durante uma semana), sem uma IA que nos controle e guie, seremos cidadãos de segunda.
Se vos derem um carro para a mão, que dizem ser o mais rápido de sempre, mas que pode, por vezes, virar à direita quando querem virar à esquerda, ou acelerar a fundo quando precisam de “negociar” uma curva a baixa velocidade, sem equipamento de protecção, aceitariam conduzi-lo?
Ainda por cima não é um carro, mas parece-se tanto com um que dá aquela sensação de reconhecimento e segurança. Melhor, a pessoa que vos quer dar a chave deste mecanismo quase mágico e temperamental acha que o propósito do veículo é o veículo em si e não as necessidades do condutor. Se isto acontecesse no mundo real, arriscariam a vida? Eu acredito que sim, porque há gente que também acredita que a SpaceX tem foguetões seguros para viajar.
A IA vai estar nos carros, nos telemóveis, nos computadores e nos frigoríficos. Irá sugerir as as melhores opções de comportamento e consumo baseadas nos nossos hábitos que, para melhor educá-la, serão minuciosamente monitorizados. Para prever, é preciso saber. Não compram pasta dentífrica tão regularmente como deviam? O vosso seguro de saúde calculado por IA passa para o dobro. Não é policiamento digital, é personalização. Tudo em prol do mercado, o baluarte da sociedade.
A alternativa é dizer não e ficar trancado do lado de fora. O que fazer? A tecnologia teve sempre como objectivo expandir e ultrapassar o potencial humano, para que possamos fazer aquilo que, sem tecnologia, não poderíamos fazer: voar, ir a outros planetas, jogar e comunicar em tempo real com pessoas espalhadas pelo mundo. Agora, é uma imposição para que possamos ser cidadãos participantes de uma sociedade activa e dinâmica. Consumidores dóceis, portanto.
A chave deste dilema deveria estar na nossa mão.