SÓ EU SEI POR QUE FICO EM BRASA

Por: Pedro Aniceto
Tempo de leitura: 3 min
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Juro-vos, pela alma deste HD onde vos guardo, que tenho resistido a publicar texto gerado por sistemas de inteligência artificial. E embora tenha testado (quase até à náusea) múltiplas situações em que esse gerador de texto me fosse útil (seguindo até preciosas dicas do director da PCGuia – salve, senhor director!), nunca consegui ficar absolutamente convencido da sua utilidade (e notem que já não estou a falar do nosso director, mas sim de IA e correlativos).

Tentem extrair de um desses sistemas um pedacinho de humor. Tentem. Vai ser tão produtivo como espremer uma esponja seca… tentem um mínimo de emoção. Sim, emoção. O que vão obter terá tanta graça como a observação detalhada de um muro recém-pintado de branco (ou de outra cor qualquer, viram o que fiz aqui? Viram?). Se calhar, estou a ser absurdamente exigente para algo que ainda agora começa a desenvolver-se. Mas, na minha condição de humano, com dois polegares oponíveis, nasci com a característica da exigência.

Experimentem pedir, a dada altura, uma “carta de amor”. Experimentem. Isto, se algum dia quiserem demonstrar o vosso afecto por alguém, com o mesmo tom que Morgan Freeman narraria a vossa declaração de IRS. Ou uma Caderneta de Registo Predial. Vai dar o mesmo resultado. Sim senhor, eu acredito em utilizações destes sistemas para coisas mais ou menos rígidas, de instruções de utilização de algo, a menus de interpretação a partir da análise de reconhecimento vocal da interação com o utilizador. É-me (muito) fácil admitir que um sistema de IA me insulte ao volante por não estar a fazer a coisa certa ou mesmo que me diga com voz doce que eu deveria ligar os faróis, quando exclamo «não vejo nada, raios!»; ou que esse mesmo sistema me sugira uma ida ao oftalmologista, porque percebeu que eram quatro da tarde, estava um Sol esplêndido e não havia razões para eu ver nada, quiçá talvez mandar lavar o vidro por dentro, caso eu lhe responda «vai tu!».

Admito isso. Admito tudo (ou quase tudo). O que me custa realmente é assistir ao endeusamento de um produto a quem falta alma. Sim, alma. Emoção. Riso. Lágrimas. A quem não reconheço humanidade.

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