Salmão que dorme, amanhece sushi!

Por: Pedro Aniceto
Tempo de leitura: 3 min
©Apple | Tim Cook, no WWDC 2022.

Nada como ver as coisas com a perspectiva de décadas para colocarmos em causa a nossa fé… na Grande Igreja da Inovação, não se pode adormecer durante um ano ou dois, que as coisas se alteram muito rapidamente. A Apple, “cliente” quase certa das listas de empresas mais inovadoras do mundo, não tem constado das mesmas nos últimos anos. Os que estão mais por dentro destas coisas, chamam-lhe ‘O factor wow!’, de que, aparentemente, está arredada há já algum tempo.

Isto não tem que ver com vendas e margens, por mais saudáveis que sejam, mas sim com a percepção das pessoas no mercado em relação aos produtos. Porque vou trocar um “velho” computador com cinco anos, se o estimado público não vê qualquer progresso tecnológico no hardware que lhe faça “cair o maxilar”? O que faz um consumidor de equipamentos móveis sentir necessidade imperiosa de renovar o parque, se não encontra uma razão de sobremaneira importante para o fazer?

Obviamente, que este apelo da troca não é o motor principal de todas as “fatias” do mercado de consumo, mas é algo que se sente também em quase todas elas. E se olharmos com atenção para a inovação tecnológica, não vemos de Cupertino nada suficientemente ‘wow!’ faz algum tempo. Pelo contrário, vemos alguns dos seus principais concorrentes começar a liderar. Alguns até já inovaram e já se afundaram, mas por razões mais políticas, que tecnológicas.

A Apple, ainda assim, cavalga uma onda de vários anos, mas que há-de esmorecer se a companhia não tirar da cartola um coelho suficientemente importante que a faça regressar a rankings que, efectivamente, expressam uma postura industrial agressiva e liderante. E, no final do dia, é assim que se constroem as lendas, embora neste mercado (como bem sabemos todos), os mitos se façam e desfaçam num par de anos. Não é que a gestão de Tim Cook tenha sido desastrosa, longe disso, o valor da Apple subiu astronomicamente nos anos que se seguiram ao desaparecimento de Steve Jobs. Essa subida faz as delícias dos acionistas, mas sem o tal “wow!”, o brilho nos olhos dos consumidores vai-se tornando mais ténue.

Muito boa gente me vai dizer, após ler estas linhas, que estarei a ser leviano, que a produção de processadores próprios é um degrau muito importante para uma convergência de software e hardware. Certo. Não o discuto. Mas não é suficientemente impressionante. São coisas “debaixo da tampa do motor”, não é uma inovação que o cliente branda com desmedido orgulho. Obviamente, que o futuro também se faz destas coisas. Esperemos que sim. Afinal, é uma questão de fé.

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