Polir um cocó

Por: André Gonçalves
Tempo de leitura: 3 min

A Internet foi apanhada de surpresa com o anúncio de que a plataforma de subscrições on-line OnlyFans iria proibir conteúdos sexualmente explícitos a partir do dia 1 de Outubro. A justificação foi a necessidade de garantir a sustentabilidade, a longo prazo, da plataforma e conseguir captar investimento de mais de mil milhões de dólares da banca.

Com mais de 130 milhões de utilizadores que pagam subscrições para cada um dos criadores que seguem e várias vezes foi louvada como a plataforma que assegurou aos/às trabalhadores(as) de sexo um local seguro para exporem os seus conteúdos, garantindo-lhes 80% do valor pago pelos seguidores. Esta foi, claramente, uma fórmula vencedora que fez a OnlyFans crescer exponencialmente, em tempos de COVID, e aproximar-se do seu principal concorrente, o Patreon, que ao permitir exposição de nus por parte dos criadores de conteúdos, sempre proibiu pornografia e serviços sexuais on-line.

A grande diferença destes para os tradicionais portais de conteúdos pornográficos está no facto de os portais permitirem publicar conteúdos de outros e na OnlyFans os conteúdos são publicados e rentabilizados pelos próprios autores. E isso faz toda a diferença na forma como é distribuída a rentabilidade dos conteúdos.

Mas o estigma de ser a plataforma mais popular da indústria independente de entretenimento para adultos, reflectiu-se também na forma como a OnlyFans se posicionou, nos últimos tempos, na sua comunicação e divulgação dos seus criadores: passou a dar muito mais relevo aos que se dedicam a áreas como a música, culinária, conselhos de moda ou fitness, e “escondendo” aqueles que, seguramente, formam a maioria dos seus produtores de conteúdos.

Este tipo de alteração abrupta em prol do puritanismo não é novidade nas redes sociais, sendo o caso mais flagrante o do Tumblr que viu o número de utilizadores cair, e consequentemente o seu valor, drasticamente após a implementação no final de 2018 de regras mais restritas a conteúdos para adultos na sua rede. Na prática, isto significou uma incrível perda de valor para uma empresa que foi comprada em 2013 por 980 milhões de euros e vendida em meados de 2019 por 2,6 milhões.

A indústria do entretenimento adulto sempre foi muito “cinzenta” mas, aparentemente, a OnlyFans tinha até agora um equilíbrio que permitia a muitos pequenos criadores e criadoras independentes fazer chegar o seu produto a consumidores dispostos a pagar directamente por conteúdos mais exclusivos. Esta alteração não vai fazer com que este mercado ou procura deixe de existir, apenas irá abrir espaço para que um ou mais concorrentes fiquem com este mercado, quiçá com condições menos interessantes para os criadores de conteúdos.

 

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