Greenwashing Elétrico

Por: André Gonçalves
Tempo de leitura: 3 min
American Public Power Association - Unsplash

A origem da energia é, cada vez mais, um argumento no momento de optar por um fornecedor de eletricidade. Por um lado, os consumidores estão mais conscientes do impacto da produção eléctrica nas alterações climáticas. Por outro, os fornecedores encontram nas fontes de energia renováveis uma das poucas formas de diferenciar o seu produto dos concorrentes, naquela que é a mercadoria mais indiferenciada que todos adquirimos regularmente.

Se pensarmos que o sistema de distribuição de energia se baseia num acordo entre comercializadores, que compram nacional e internacionalmente energia e a “entregam” na rede elétrica nacional, para depois os distribuidores (do qual a E-redes é o principal operador) assegurarem a entrega tanto aos clientes empresariais, como residenciais, podemos concluir que a qualidade do serviço/energia é exactamente a mesma, independentemente do comercializador, e que ninguém pode, efectivamente, garantir que o kWh que está a ser entregue num determinado local tem origem renovável ou não.

Infelizmente, as fontes de energia poluentes são ainda as que asseguram a melhor capacidade de armazenagem e as que têm, em alguns casos, um custo de entrega mais baixo e, no limite, as únicas que conseguem fazer face a picos extraordinários de consumo. Isto faz com que muitos comercializadores tenham ainda em mãos uma fatia muito considerável (entre 60 a 70%) de kWh de fontes não renováveis para alocar aos consumos dos seus clientes. Logo, todos aqueles clientes que não estejam interessados em pagar mais pela “certificação de origem renovável” vêm atribuídas taxas de CO2 aos seus consumos que, em alguns casos, chegam quase aos 90%.

Mas o que é verdadeiramente lamentável é quando os comerciantes tentam passar os seus tarifários mais poluentes como “verdes”. Um caso flagrante passou-se comigo, quando contactei a Endesa sobre algo peculiar que encontrei no seu site em relação ao tarifário e-luz que se intitula ‘Tarifa 100% renovável’ afirmando ter «uma energia acessível e sustentável», que «protege o meio-ambiente» ou «uma tarifa que tem como prioridade a sustentabilidade e o meio ambiente”». E até mesmo este ilustrativo logotipo:

Consultado a rotulagem eléctrica da ficha contratual do tarifário verifiquei que mais de 62% provém de fontes não-renováveis. Liguei para a linha de apoio ao cliente onde uma simpática operadora me explicou que quando se referem a energia renovável 100% nada tem que ver com fontes renováveis de energia, mas sim como facto de o tarifário ser totalmente renovável todos os anos sem precisar de intervenção do cliente. Fiquei sem palavras…

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