A estética da cidade de Los Angeles em Blade Runner (em conjunto com a música de Vangelis) deu o tom. Mais tarde, os livros de William Gibson deram o contexto e a substância para o que se veio a chamar ‘cyberpunk’. Mas o termo ‘cyberpunk’ é mais antigo: foi criado em 1980, pelo escritor Bruce Bethke, para o seu conto homónimo, que, entretanto, só seria publicado em Novembro de 1983, na revista Amazing Science Fiction Stories.
O cyberpunk é um subgénero da ficção científica focado em histórias que abordam a alta tecnologia e a baixa qualidade de vida (‘ligh tech, low life’). O termo resulta da combinação de cibernética com o punk alternativo e mistura ciência avançada, como as tecnologias de informação e a cibernética, com um grau de desintegração ou mudança radical no sistema civil vigente.
Herança pesada
Depois do mega-êxito que foi a série de jogos Witcher, a CD Projekt Red necessitava de uma nova base para criar um título que conseguisse ter, pelo menos, o mesmo impacto que as aventuras de Geralt de Rivia. Assim, pegou em Cyberpunk, um jogo de tabuleiro editado pela primeira vez em 1988 e deu-lhe o “tratamento” CD Projekt Red”, em que o principal esforço foi trazer o mundo de Night City (do jogo original) da mente dos jogadores para uma referência visual e, ao mesmo tempo, contar uma história que agarrasse o público. Assim nasceu Cyberpunk 2077. Mas, ao contrário do que aconteceu com a adaptação dos livros para criar o mundo de Witcher, as partes operacionais fundamentais de Cyberpunk 2077 (gestão de inventário e progressão, por exemplo) já estavam feitas – por isso, foi apenas necessário adaptá-las ao novo título.
Resta a história. Em Cyberpunk 2077 assumimos o papel de V, um mercenário que vive de pequenos biscates, mas que, de repente, aceita um trabalho que lhe vai mudar a vida completamente. Quando V aceita o trabalho de roubar um suporte de dados revolucionário vai meter-se numa situação de que não estava à espera e, pelo caminho, recebe um companheiro que literalmente não lhe sai da cabeça: Johnny Silverhand, interpretado por Keanu Reeves.
Três facções, três histórias
V pode pertencer a uma de três facções, que moldam a forma como o jogo se desenrola: Corpos (membros das mega-empresas que controlam Night City), Streekids (vêm das zonas mais pobres da cidade e conhecem-na como ninguém), e os Nomads (vivem fora de Night City numa espécie de comunidade livre).
Tal como acontece em Witcher (e na vida real), em Cyberpunk 2077 todas as decisões que tomamos vão ter impacto naquilo que acontece no futuro e na forma como interagem connosco e como interagimos com os outros. Por exemplo, numa missão do Acto 1, quando temos de ir buscar um robô que nos vai ajudar no trabalho de roubar o suporte de dados, podemos pagá-lo ao gangue que o tem ou ir pela via mais violenta e tentar roubá-lo. Pelo caminho, podemos ainda salvar o chefe original do gangue que está preso num frigorífico, mas também o podemos matar. Tudo isto tem influência na forma como a história se vai desenvolver daí para a frente.
De perto e pessoalmente
Ao contrário de Witcher, em que se joga numa perspectiva de terceira pessoa, Cyberpunk é todo na primeira pessoa, o que nas situações de combate o transforma num FPS bastante competente. Para isso podem usar-se armas de fogo, espadas e facas ou os punhos. À medida que progredimos, também podemos adquirir implantes cibernéticos que nos tornam mais fortes, mais rápidos ou que são, em si, armas. Em alternativa, a maioria das missões pode ser concluída furtivamente ou mesmo através de uma simples conversa, evitando derramar sangue.
Depois há as Braindances: em 1995 foi lançado um filme chamado Strange Days (Estranhos Prazeres) em que se traficam gravações das emoções humanas gravadas através de um dispositivo colocado na cabeça. Em Cyberpunk 2077 isto também acontece, mas tudo é gravado através dos olhos biónicos que as personagens usam – estas gravações são usadas para fazer reconhecimento para o planeamento de missões. O sistema funciona como se de um sistema de edição vídeo se tratasse e é bastante interessante.
Na minha opinião, se quer mesmo saborear a maior parte daquilo que o jogo tem para oferecer tem de jogar em PC, ou então jogar em consola com teclado e rato. O sistema de combate de Cyberpunk 2077 não funciona tão bem com um comando. Graficamente, o jogo funciona melhor em PC, principalmente se tiver uma gráfica de gama média ou superior recente. O jogo depende tanto das capacidades gráficas, que as consolas mais antigas têm dificuldade em executá-lo como deve ser. A CD Projekt Red já disse que está a trabalhar numa série de correcções para resolver este problema.
Este novo jogo da editora polaca não é perfeito e tem muitos bugs, mas nenhum destes erros impede de completar a aventura. Este problema salta à vista porque a CD Projekt Red está a ser vítima do hype que ela própria criou à volta deste jogo. No entanto, como a história já nos ensinou (ver o caso de No Man’s Sky), os videojogos podem ser como o vinho e melhorar com a idade. Basta nunca desistir disso.
Editora: CD Projekt Red
Distribuidora: Bandai Namco
Site: cyberpunk.net
Plataformas: Windows, PS4, PS5 Xbox One/Series X, Stadia,
Preço: €69,99 (PS4/5, Xbox One/Series X), €59,99 PC/Stadia