Starlink: O que é e como funciona a Internet por satélite que promete chegar a todo o mundo

Por: Pedro Tróia
Tempo de leitura: 6 min
©Real Engineering

Os serviços de acesso à Internet via satélite não é propriamente uma tecnologia nova, de facto no início do século XXI tivemos oportunidade de experimentar um dos primeiros serviços disponíveis em Portugal, que prometia velocidades muito superiores do que era possível naquela altura, mas que obrigava a ter uma ligação telefónica ao um segundo ISP para de permitir a comunicação upstream com os serviços de Internet.

Anos passados, em Portugal esta tecnologia não ganhou muitos adeptos, principalmente devido à dimensão do país que permitiu às redes móveis de dados chegar facilmente a (quase) todo o lado, de uma forma rápida e com velocidades que, em grande parte dos locais, é aceitável pelos padrões actuais.

Mas em países muito mais extensos que o nosso, a tecnologia de acesso à Internet via satélite é muito apetecível. Pelas distâncias envolvidas, os investimentos necessários para levar ligações de Internet de banda larga de qualquer tipo aos locais mais remotos, são muito grandes. Por isso, neste momento muitas comunidades rurais em países desenvolvidos, como os EUA ou mesmo no Reino Unido, estão ainda dependentes de ligações ADSL ou de ligações analógicas.

Os satélites utilizados para o acesso à Internet (ou outras aplicações) podem estar colocados em dois tipos de órbitas:

Órbitas geoestacionárias, directamente acima do Equador, têm uma rotação igual à da Terra, o que faz com que pareçam estar sempre sobre o mesmo ponto no céu.

Órbitas médias e baixas. Neste caso os satélites não aparentam estar sempre no mesmo ponto do céu, o que faz com que seja complicado ter uma antena sempre bem orientada a um determinado satélite. Por isto, neste caso em vez de poucos satélites, estas órbitas são usadas por constelações de satélites compostas por centenas ou milhares, o que garante que esteja sempre pelo menos um satélite em linha de vista dos receptores dos clientes. É exactamente esta configuração que a Starlink utiliza.

A Starlink é uma empresa ligada à SpaceX de Elon Musk (o mesmo da Tesla), fundada em 2015, que tem como objectivo o lançamento de um serviço de acesso à Internet via satélite que chegue a todos os pontos do planeta e que seja simples de montar e configurar.

Para o conseguir, a Starlink vai lançar, na fase inicial do serviço, 1440 satélites com 250 kg cada para iniciar as operações comerciais entre 2021 ou 2022. Neste momento a constelação já tem 720 satélites, mas o objectivo é ter, pelo menos, 12000 satélites em órbita para garantir cobertura global. Recentemente a Starlink pediu uma licença à entidade reguladora das comunicações americana para poder usar 30000 satélites.

Inicialmente, estava programado que os satélites usariam uma órbita a 600 Km da superfície, mas devido a receios relacionados com o lixo espacial e também com o potencial impacto negativo nas observações radioastronómicas, a altitude foi reduzida para 550 Km (o que também facilita as comunicações com o solo, porque reduz o tempo que o sinal demora a ir do equipamento do utilizador até ao satélite). Também será usado um revestimento anti-reflexo para minimizar o impacto no trabalho dos astrónomos que usam telescópios ópticos.

Uma das funcionalidades mais interessantes do sistema de satélites Starlink é a possibilidade que eles têm de comunicar entre si através de lasers.

Simplificando, a ideia é transformar cada um dos satélites num tipo de “router espacial” capaz de receber e enviar informação de e para outros satélites no sistema. 

Se tiver curiosidade, dê uma vista de olhos ao vídeo abaixo (em inglês), que explica em mais pormenor o funcionamento dos lasers e outros sistemas dos satélites Starlink.

Do lado dos clientes, o hardware para aceder à rede será todo fornecido pela Starlink e é composto por um router/modem e uma antena parabólica de pequenas dimensões, a que Elon Musk chamou “OVNI num pau” (UFO on a Stick). Devido à quantidade de satélites que vão ser usados, o utilizador apenas tem de apontar a antena ao céu numa zona desobstruída.

A antena do serviço Starlink.
©Starlink

E funciona?

O sistema já está em fase de testes beta nos Estados Unidos e Canadá e os utilizadores estão já a publicar os resultados de testes de velocidade feitos à rede.

Nesta altura, segundo o site testmy.net, a velocidade média que se consegue obter é de 44 Mbps. A velocidade mínima foi de 0,08 Mbps e a máxima é de 122 Mbps. As velocidades que foram mostradas pela empresa durante a apresentação do serviço foram entre os 102 e 103 Mbps com uma latência ente os 18 e os 18 milissegundos. É provável que o desempenho do sistema venha a melhorar assim que estiverem mais satélites em órbita.

Mais informação: Starlink, SpaceX

Sou director da PCGuia há alguns anos e gosto de tecnologia em todas as suas formas. Estou neste mundo muito por culpa da minha curiosidade quase insaciável e por ser um fã de ficção científica.
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