Eu podia poupar-vos à descrição da minha própria decadência física, mas a verdade é que toca a todos e um destes dias o meu médico da especialidade de otorrino disse-me com o ar mais natural com que é possível dar uma má notícia: «Pois é, Sr. Aniceto, são muitos anos a carregar uma herança genética de mau ouvido, e isso que diz ser uma impressão, é já uma certeza definitiva». A perda auditiva não é apenas coisa de velhotes – afecta milhões de pessoas que nem sequer sabem que têm o problema e chegou a minha hora de gerir o meu.
Sempre olhei para as labels Apple de ‘Assistência Auditiva’ nos AirPods Pro 2 como uma gracinha de marketing, mas agora que isso foi bastante realçado no último lançamento deste acessório na versão 3 e com as notícias que a entidade reguladora americana, FDA, concedeu a aprovação destes auriculares para “clinical grade”, isso fez-me aprofundar bastante mais a minha curiosidade técnica. Para quem não saiba, um aparelho auditivo de qualidade, é coisa para custar dois rins. E mesmo que no meu caso a perda não seja ainda significativa e o custo não me remeta ainda para a hemodiálise, ainda assim, é caso para ponderar. A verdade é que a evolução da tecnologia de cancelamento de ruído é fundamental neste processo.
O utilizador começa com um teste auditivo (que parece estar cientificamente validado), que é feito em parceria com o iPhone, em condições de som ambiente “natural”. O cancelamento de ruído dos AirPods simulam as condições que são necessárias para uma avaliação que me pareceu bastante exacta (quando confrontada com os audiogramas que tenho em minha posse). Esta funcionalidade de Assistência Auditiva provoca a amplificação de determinadas frequências (determinadas pelo trabalho de um processador) o que torna o som mais claro e perceptível. Este perfil de “surdo, mas não demasiado” configura-se em muito pouco tempo e a clareza vocal melhora substancialmente e em ambientes ruidosos, aquilo que a Apple designa por ‘Conversation Boost’ entra em ação com a recolha de fonte sonora focada no emissor à nossa frente. Com valores de performance de bateria até 10 horas usando exclusivamente a função de ‘Assistência Auditiva’, (mileage may vary – faltam-me testes prolongados) e bastante melhor rendimento de duração no modo transparente, isto é muito, mas muito interessante (e trendy) para surdos de primeira viagem. E, meus caros, não vão gastar milhares de euros e o vosso aparelho auditivo não vos permite ouvir música com a qualidade de uns AirPods. Pena é que não sejam produtos testáveis em loja, mas façam as vossas buscas por fontes da especialidade (e quase todas corroboram o que eu próprio experimentei).