Portugal já não discute acesso, discute resultado. A digitalização pesa na economia nacional e chega a setores muito para lá da tecnologia em sentido estrito. Indústria transformadora, retalho, agricultura, logística e turismo estão no pacote.
Os dados do Estudo do Impacto da Economia Digital em Portugal (ACEPI/GoingNext, em parceria com a Porto Business School), apontam para uma contribuição acumulada de +13% do PIB, +19% do emprego e +13% dos salários, sustentando cerca de 3 milhões de empregos, 90 mil milhões de euros em VAB e 30 mil milhões em receita fiscal.
O que mudou em 2024 e 2025: Números que contam
O parte económica da digitalização se estabeleceu nos últimos 12 meses. Tal como detalhado no estudo, a economia digital portuguesa gera efeitos diretos e indiretos que extravasam o setor tecnológico, multiplicando valor em cadeias produtivas onde a integração de dados, automação e serviços as-a-service já é rotina.
Ao mesmo tempo, os autores alertam que o problema não é ter tecnologia, é integrá-la bem com pessoas e processos, com liderança, métricas e execução. A IA, aqui, funciona como catalisador, reduz tempos, melhora decisões e permite novas fontes de receita. No plano do consumidor e das finanças pessoais, há um efeito paralelo.
Com mais portugueses a pagar, guardar e transferir valor em ambientes digitais, cresce a necessidade de literacia e de ferramentas de confiança, especialmente quando o assunto é criptoativo. Por isso é útil compreender o funcionamento dos diferentes aspectos do setor, desde a proteção de chaves até boas práticas de segurança.
As carteiras de criptomoedas fazem parte da gestão de ativos digitais que já integram, de forma natural, o quotidiano de quem compra online, investe ou participa em novos serviços financeiros. A aceleração digital não é apenas infraestrutura, é também comportamento, confiança e autonomia tecnológica do utilizador.
Infraestrutura preparada: O 5G como base para novos casos de uso
A transição da promessa para a escala também se mede no território. Segundo a ANACOM, no final do 2.º trimestre de 2025 existiam 14 445 estações 5G instaladas em Portugal, com cobertura que já abrange todos os concelhos e chega à larga maioria das freguesias.
Os dados do 1.º trimestre de 2025 indicavam 13 954 estações, um crescimento de 6,6% face ao trimestre anterior e +39,6% face ao 1.º trimestre de 2024. O que evidencia expansão consistente da rede.
Para empresas e serviços públicos, esta base de conectividade viabiliza arquiteturas edge, processamento em tempo real e IoT, condições necessárias para que a IA saia do powerpoint e entre na operação diária.
Esta malha 5G, articulada com cloud e centros de dados regionais, reduz latências e permite use cases antes inviáveis: manutenção preditiva em parques industriais, visão computacional em linhas de produção, analytics em lojas físicas, orquestração de frotas em logística, bem como soluções de turismo inteligente em destinos de alta rotatividade.
Quando a conectividade deixa de ser o estrangulamento, o bottleneck desloca-se para a qualidade da integração e da gestão. Em 2024, 13,5% das empresas da UE com 10 ou mais trabalhadores usavam tecnologias de IA, um salto de +5,5 p.p. face a 2023.
Entre as grandes empresas, a adoção superou os 40%, refletindo a maturidade das que já combinam dados, cloud e talento especializado. Em Portugal, os sinais são mistos. O país progride, mas abaixo da média europeia, com o INE a indicar 8,6% de empresas a recorrerem a IA em 2024.
O gap em relação às líderes europeias é real e, ao mesmo tempo, traduz uma oportunidade de aceleração nos próximos ciclos orçamentais e de roadmaps digitais. A mensagem das instituições europeias converge.
O relatório da Década Digital 2025 sublinha progressos nos serviços públicos digitais e na conectividade, mas também aponta metas ambiciosas para a adoção de tecnologias avançadas, competências e IA confiável. Para Portugal, a fasquia está em usar melhor o que já existe, como dados, infraestruturas, financiamento e redes de transferência de conhecimento.
Do piloto à escala: Integração organizacional como fator crítico
O bloqueio que muitos gestores identificam não está no software em si, mas na qualidade da gestão. Alinhar pessoas, processos e tecnologia, definir métricas e fechar o ciclo entre caso de uso, KPI e resultado económico. É a passagem da adoção superficial, POCs que nunca saem do laboratório, para a integração com ERP, CRM e chão de fábrica.
As conclusões dos autores do estudo ecoam esta ideia: liderança com visão, capacidade de execução e métricas claras são condições para que a IA produza resultados em produtividade, competitividade e criação de valor. No terreno, a evidência acumula-se.
Entre as empresas que já usam IA, mais de três quartos relatam ganhos de produtividade graças à automação de tarefas repetitivas, análise de dados e melhoria do serviço ao cliente. Além disso, setores com margens apertadas, como retalho alimentar, logística last mile, hospitalidade, começam a usar personalização em tempo real, previsão de procura e workforce scheduling inteligente para aliviar pressões de custo.