O mundo corre cada vez mais à velocidade da tecnologia. Os países e as sociedades sofrem revoluções demográficas e culturais próprias dos massivos surtos de emigração e, consequentemente, os agentes políticos acabam apanhados nesse turbilhão. Aconteceu nos EUA, acontece no nosso País.
Não é, portanto, de estranhar que, em latitudes mais periféricas, e onde as democracias são (ainda) mais vulneráveis, surjam as primeiras eleições por Discord, como aconteceu recentemente no Nepal; ou se leia em parangonas a nomeação de uma IA como ministra na Albânia. Chama-se Diella e, até há meses, era só uma funcionária digital do portal e-Albania. Agora, por decreto presidencial, passou a “supervisionar” as compras públicas, um terreno onde a corrupção sempre floresceu e que é a principal razão apontada à criação da mesma.
Ressalve-se que o decreto não empossa a Diella como ministra; atribui ao primeiro-ministro Edi Rama a responsabilidade de criar e gerir esta “pasta virtual”. Soa quase a um novo refrão da velha canção portuguesa ‘Ó Rama, ó que linda Rama’, com a diferença de que Edi não tem a transparência da voz de Vitorino. Continuará a ser ele o responsável por implementar as regras pelas quais que se vai gerir esta nova ministra, que não é mais que uma interface GPT com um crachá governativo.
Enquanto oposição grita ‘inconstitucionalidade’ e os juristas sublinham que a Lei só conhece ministros humanos, a presidência responde que está tudo em ordem porque a função recai sobre o chefe do executivo. Tradução: se a Diella errar, o erro é de Rama — pelo menos no papel.
O problema não é técnico, é político. A IA pode ser usada como um escudo conveniente: quando algo corre bem, é mérito da inovação; quando corre mal, a culpa morre num servidor… solteira. Promete-se transparência, mas corre-se o risco de se ficar com uma opacidade algorítmica.
Vitorino cantava ‘Ó Rama, ó que linda Rama’ mas, no refrão seguinte, pergunta-se agora: quem é que responde quando a máquina desafina? A Albânia inaugurou o primeiro ministério virtual; resta saber se vai dar um concerto de confiança ou se é mais uma cantiga desafinada de propaganda.