A existência de diferentes tipos de sangue é uma das realidades mais frustrantes da biologia humana, porque pode fazer com que procedimentos médicos simples sejam muito mais difíceis. Todos conhecemos os problemas que o tipo de sangue pode causar numa simples dádiva de sangue, mas a questão é igualmente importante nos transplantes de órgãos.
Uma equipa de cientistas publicou um estudo na revista Nature Biomedical Engeneering que demonstra progressos na transformação de um rim de dador de Tipo A para Tipo O que é universal. O transplante foi realizado num paciente em morte cerebral e demonstrou resultados encorajadores. Apesar deste sucesso ainda há muito trabalho a fazer, mas é uma conquista incrível para um primeiro transplante.
A técnica utiliza uma enzima que há muito se sabe ser capaz de “cortar” os grupos de antigénios no exterior dos glóbulos vermelhos. Usada o suficiente, a enzima pode, eventualmente, transformar uma amostra de qualquer tipo de sangue em sangue funcionalmente O-negativo.
Os investigadores usaram uma técnica chamada perfusão hipotérmica para fazer circular uma solução desta enzima através do rim após a sua remoção do dador. Depois de fazerem isto de forma suficientemente exaustiva para garantir que o rim era agora O-negativo, transplantaram-no para o paciente teste, que também recebeu uma infusão da mesma enzima.
O resultado foi uma integração bem-sucedida do rim durante vários dias, sem necessidade das técnicas de imunossupressão que tipicamente acompanham os transplantes de órgãos. Isto significa que pode melhorar o bem-estar do paciente e, mais importante, evitar expô-lo a infecções secundárias.
No terceiro dia, o rim mostrou alguma actividade de Tipo A, mas apenas um pouco, e o corpo pareceu mostrar alguns sinais de adaptação. Questiona-se se a solução poderá ser algum tipo de terapia genética, onde o passo de perfusão edita o gene para a molécula da enzima, e o rim produziria as suas próprias enzimas de alteração do tipo de sangue à medida que funciona.
A necessidade de avanços deste tipo é enorme devido às dificuldades em encontrar órgãos compatíveis em tempo útil para salvar os pacientes que necessitam deles. Para já, a possibilidade de transplantar um qualquer rim disponível para qualquer paciente ainda não resolve totalmente o problema, visto que são necessários sempre mais rins do que os disponíveis, mas reduz grandemente o problema no imediato.
O cultivo de rins totalmente novos será a única solução total a longo prazo, o que pode demorar décadas ao ritmo do avanço científico actual. Até lá, avanços como este poderão salvar bastantes vidas.