Embora a utilização de bots na rede das redes não seja uma novidade, a Fastly conclui que os chatbots e os programas associados estão a amplificar de forma significativa este fenómeno, atingindo níveis até agora mais comuns em ataques informáticos deliberados. Segundo os dados recolhidos para este estudo, 80% do tráfego de bots corresponde a rastreadores, que percorrem a internet para alimentar bases de dados de conhecimento dos vários modelos de IA. Os restantes 20% vêm de fetchers, que procuram sequências específicas de informação.
A maioria da actividade de rastreio ocorre em páginas ligadas ao comércio electrónico, à comunicação social, ao entretenimento e à tecnologia. Só a Meta representa 52% deste tráfego. O estudo sublinha que este processo funciona como uma espécie de “ruído de fundo”, com pedidos constantes que superam largamente o que era habitual nos motores de busca tradicionais.
Já os fetchers criam picos súbitos e muito intensos de tráfego, capazes de sobrecarregar servidores em poucos instantes. A Fastly identificou casos em que um único site recebeu 39 mil pedidos por minuto. Cerca de 98% desta actividade tem origem na OpenAI, sobretudo no ChatGPT.
O problema central é que este tráfego não gera qualquer compensação financeira para os criadores de conteúdos, que suportam os custos de manter servidores sobrecarregados sem retorno directo. Na prática, os ganhos acabam por beneficiar terceiros. A situação levanta um paradoxo: os chatbots precisam de conteúdos para funcionar, mas se contribuírem para tornar insustentável a produção e a disponibilização desses mesmos conteúdos, arriscam-se a destruir a base do seu próprio funcionamento.
Alguns especialistas admitem que este contexto possa abrir espaço para uma recuperação dos meios de comunicação tradicionais. Mas outros receiam que o resultado seja, antes, uma maior concentração da indústria dos média e do entretenimento.
Entretanto, começam a surgir propostas de solução. A CloudFlare apresentou recentemente uma funcionalidade experimental de pagamento por cada rastreio e alargou restrições de acesso aos bots a todos os sites que aloja. Há ainda tentativas de criar mecanismos de defesa activa, como bots guardiões que obrigam os chatbots a realizar tarefas complexas, aumentando os custos de operação. Também no plano político surgem iniciativas para legislar sobre o comportamento da IA, embora nenhuma tenha, para já, passado da fase de proposta.
Com a chegada da versão 5.0 do ChatGPT, a própria utilidade dos grandes modelos de linguagem começa a ser questionada. A dúvida central é se estes sistemas oferecem valor suficiente para justificar os custos crescentes que impõem à internet.