Quando, em novembro de 2024, o relatório People & Money da BlackRock revelou que 43% dos investidores portugueses já detêm criptoativos, quase o dobro da média europeia (22%), ficou claro que o país passou da simples curiosidade para uma adopção em massa das moedas digitais.
Apesar disso, a esmagadora maioria dos mais de 3,7 milhões de tokens criados desde 2021 desapareceu ou perdeu mais de 90% do valor poucos meses após o lançamento, segundo um estudo da CoinGecko. Num mercado onde o hype conta, muitos projectos recorrem a um airdrop para semear uma comunidade inicial.
Receber tokens “de graça” pode soar tentador, mas o verdadeiro teste começa depois, quando a utilidade do activo tem de justificar um preço sustentável. Os airdrops de criptomoedas bem-sucedidos precisam resolver um problema real, como pagamentos mais baratos, identidade digital ou crédito descentralizado.
Caso contrário, os detentores venderão à primeira oportunidade, drenando liquidez e enterrando o projecto. O primeiro sinal a escrutinar, por isso, é a equipa. Fundadores que se identificam publicamente, exibem perfis coerentes no LinkedIn e histórico de código no GitHub reduzem o risco de fraude.
Foi essa transparência que permitiu a Solana angariar capital em 2021, enquanto dezenas de clones anónimos de “Ethereum killers” ficaram pelo caminho. Vale a pena olhar igualmente para parceiros, já que acordos com universidades, startups ou grandes players, anunciados em comunicados oficiais, costumam preceder a retenção de utilizadores.
Um token pensado apenas para especular distingue-se facilmente de outro que concede descontos nativos numa app de pagamentos, governa smart contracts num jogo play-to-earn ou garante interoperabilidade entre blockchains, por exemplo. Isto mostra que a tecnologia encontra cenário concreto, não meras promessas. Ainda assim, a coluna vertebral de qualquer moeda é a tokenomics.
Ou seja, o número máximo de unidades e a taxa de inflação e calendário de desbloqueio (os chamados vesting schedules). Se 50% do fornecimento fica reservado à equipa nos primeiros seis meses, a pressão vendedora será inevitável. Se a emissão é predefinida e decrescente, como no Bitcoin, a escassez relativa ajuda a manter procura.
Consultar o white paper e comparar gráficos de distribuição com exemplos bem-sucedidos (Polygon ou Chainlink) é um exercício obrigatório. Há ainda a questão da segurança. Auditores independentes, como a CertiK ou a Trail of Bits, publicam relatórios públicos onde indicam falhas críticas no código.
Um score satisfatório não garante invulnerabilidade, mas a ausência completa de auditoria é bandeira vermelha imediata. E a liquidez é outro teste. Cotação em várias bolsas reputadas, um bom volume diário em relação à capitalização e spreads apertados impedem que um investidor fique “preso” num token sem compradores.
Exchanges com licença no Espaço Económico Europeu cumprem normas KYC/AML, recorrer a plataformas exóticas aumenta o risco de bloqueio de levantamentos. Desde dezembro de 2024, qualquer prestador de serviços com criptoativos precisa de autorização ao abrigo do Regulamento MiCA, que o Banco de Portugal começou a aplicar este ano.
O diploma impõe reservas de capital e planos de continuidade que afastam operadores amadores, mas favorecem projectos capazes de cumprir essas exigências. Por fim, deve-se olhar para a comunidade. O relatório Henley Crypto Adoption Index 2024 coloca Portugal entre os quinze países com utilização mais intensa.
Mas salienta que o tráfego orgânico (GitHub, Discord, X) explica metade da sobrevivência de um token após o primeiro ano. Se o repositório do projecto está parado há meses ou o Discord é dominado por bots, a probabilidade de abandono sobe bastante.