Muitas pessoas garantem que conseguem perceber logo se uma fotografia foi criada por IA. Em retratos, o cabelo parece ter um brilho artificial e a pele surge quase sempre sem rugas. Nas paisagens, as nuvens parecem mais fofas e a relva mais verde que a realidade.
Mas, à medida que a geração de imagens por IA evolui, torna-se cada vez mais difícil identificar estes sinais de falsificação. Se, agora, isto já é complicado, pode vir mesmo a tornar-se impossível a longo prazo, pelo menos a olho nu. A nossa sugestão passa por usar uma série de ferramentas para detectar o dedinho da IA na criação de fotos.
Como funcionam as ferramentas de detecção de IA?
Estes recursos não procuram todos os mesmos indícios. Alguns analisam os metadados do ficheiro, como o modelo da câmara, a lente e as definições utilizadas. Se esta informação estiver ausente ou parecer falsa, é um sinal de alerta. No entanto, a maioria dos programas de edição de imagem ou redes sociais remove esses dados, o que significa que muitas vezes não há nada para verificar.
Outras ferramentas examinam a própria imagem, procurando variações subtis de tom e textura que as câmaras reais produzem, mas que a IA tende a reproduzir de forma incorrecta. Algumas comparam ainda a imagem com grandes bases de dados de imagens geradas por IA, para encontrar semelhanças.
As melhores ferramentas usam vários métodos e são surpreendentemente precisas. Mas quase todas funcionam num modelo freemium, ou seja, com limitações cada vez mais apertadas quanto ao número de fotografias que podemos analisar antes de termos de pagar. Existem apenas duas que recomendamos: antes de lá chegarmos, experimente primeiro estas três estratégias.
1 – Faça uma pesquisa inversa de imagem no Google
A ferramenta de detecção de IA que deve usar depende em parte do conteúdo da imagem. Se esta parecer mostrar um acontecimento noticioso, uma celebridade ou um político a fazer algo extremamente improvável, utilize a pesquisa inversa de imagens do Google. Embora não identifique uma imagem como falsa, mostra os sites ou redes sociais onde aparece e o que outros sites dizem sobre a mesma. Este é um bom primeiro passo a dar antes de recorrer a ferramentas mais especializadas.
Aceda a google.com e clique no ícone da câmara, na caixa de pesquisa. Pode carregar a imagem, arrastá-la para a caixa ou colar o respectivo URL. Escolha ‘Correspondências exatas’ para que o Google procure imagens iguais, pixel por pixel. Também pode clicar em ‘Acerca desta imagem’ para ver há quanto tempo anda a ser partilhada online.
Testámos isto com uma imagem gerada por IA de Donald Trump a beijar Vladimir Putin Encontrámos múltiplas cópias idênticas, nove ao todo, a maioria a denunciar a plataforma usada para a criar: o Stable Diffusion, um modelo que serve para criar «imagens foto-realistas a partir de texto».
2 – Verifique os dados ocultos da fotografia
As ferramentas de detecção de IA analisam os metadados de uma imagem, mas também o pode fazer através do site fotoforensics.com. Clique em ‘Explorar’, localize e seleccione a imagem que quer verificar. Depois, carregue em ‘Upload File’ > ‘Metadata’ (na caixa que aparece, à esquerda).
Faça scroll para baixo e procure por referências a um chatbot de IA ou a ferramentas populares de geração de imagem, como o Midjourney ou o DALL·E. Na nossa captura de ecrã, o FotoForensics não identificou, contudo, que esta imagem tinha sido criada pelo Stable Diffusion Web.
3 – Pergunte ao ChatGPT
Se os chatbots de IA conseguem criar imagens falsas, seria lógico que também fossem bons a detectá-las, certo? Bem, até um certo ponto. Em primeiro lugar, nem todos conseguem gerar imagens; segundo, não foram concebidos especificamente para reconhecer conteúdos criados por IA. Ainda assim, o ChatGPT teve um desempenho razoável nos nossos testes, distinguindo correctamente fotografias reais de imagens falsas, tanto em retratos como em paisagens, na maioria dos casos.
Tentámos enganá-lo ao renomear fotografias reais com o tipo de nomenclatura que utiliza ao gerar imagens artificiais, mas o ChatGPT explicou-nos que não analisa nomes de ficheiros para determinar se uma imagem é autêntica. Em vez disso, procura padrões visuais característicos de imagens geradas por IA, como texturas estranhas ou detalhes pouco naturais. O próprio ChatGPT admite, contudo, que não é tão preciso como uma ferramenta dedicada à detecção de IA, uma vez que não analisa as imagens ao nível do pixel.
Sightengine sem dúvidas: 99%
Passemos agora às duas ferramentas de detecção de IA que recomendamos. A Sightengine é pensada para empresas que precisam de fazer verificações frequentes, pelo que inclui várias funcionalidades avançadas de que a maioria dos utilizadores não precisa. Ainda assim, é suficientemente simples para pessoas com menos experiência, e a versão gratuita permite carregar até duas mil imagens por mês, com um máximo de quinhentas por dia.
Entre em sightengine.com e clique em ‘Sign Up’, no canto superior direito, uma vez que tem de criar uma conta. Depois de responder a algumas perguntas sobre a finalidade de utilização, basta arrastar uma imagem para o ecrã que aparece. A ferramenta não falha, e identifica correctamente a foto de Trump e Putin como gerada por IA, com uma probabilidade de 99%; além disso, também indicou o Stable Diffusion como modelo usado para a criar.
As várias ferramentas do Huggingface
A outra plataforma é o Huggingface, onde encontramos várias ferramentas de detecção de IA criadas por programadores independentes com base nos modelos de código aberto deste repositório. Pode encontrá-las em huggingface.co/spaces, depois de procurar por ‘ai image detector’: são todas gratuitas e não exigem a criação de uma conta para usar. Contudo, o seu funcionamento é irregular e muitas deixaram de ser actualizadas.
A melhor que testámos foi desenvolvida por Ateeq Azam: basta carregar a imagem e clicar no botão laranja ‘Enviar’. Assim que fizer isto, esta app apresenta uma percentagem de probabilidade: ‘AI’ e ‘Hum’ (de ‘humano’). Mais uma vez, não há margem para dúvidas.