A disputa pelo controlo da Warner Bros. Discovery (WBD) sofreu uma reviravolta dramática esta semana. Alguns dias depois de a Netflix ter vencido a corrida pela aquisição dos estúdios e serviços de streaming da WBD, a Paramount Skydance recusou-se a aceitar a derrota e lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) hostil sobre a totalidade do grupo, prometendo um prémio significativo aos accionistas.
A indústria do entretenimento foi abalada na passada sexta-feira quando a Netflix anunciou um acordo para adquirir os negócios de cinema e streaming da WBD — incluindo a HBO e a HBO Max — por um valor total de 82,7 mil milhões de dólares. O plano original previa que os canais de televisão por cabo da WBD fossem separados numa nova empresa independente, a Discovery Global, com conclusão prevista para o terceiro trimestre de 2026. No entanto, a Paramount tem outros planos e decidiu jogar cartada final directamente junto dos accionistas da Warner.
Alegando que a administração da WBD não analisou devidamente as suas propostas anteriores, a Paramount anunciou uma oferta de compra integral da empresa por 108,4 mil milhões de dólares. A proposta fixa o preço por acção em 30 dólares, o que representa um prémio de 139% face ao valor das acções em Setembro de 2025.
David Ellison, CEO da Paramount, criticou duramente o acordo com a Netflix, argumentando que a fragmentação da WBD prejudica o valor da empresa a longo prazo e deixa os accionistas expostos a “incerteza futura” do negócio de televisão por cabo linear. Em contrapartida, Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, desvalorizou a ofensiva, afirmando numa conferência do UBS que esta medida era “totalmente esperada” e reafirmando a solidez do seu acordo para proteger empregos na indústria.
Esta batalha não se trava apenas nos mercados financeiros, mas também na arena regulatória. A Paramount argumenta que a fusão entre a Netflix e a WBD criaria um monopólio no mercado de streaming, especialmente na Europa, onde a união das duas entidades resultaria num domínio excessivo de preços e conteúdos.
Contudo, a própria proposta da Paramount enfrenta escrutínio dos reguladores. Uma fusão entre a Paramount e a WBD combinaria dois dos maiores estúdios de Hollywood e concentraria o poder mediático ao juntar a CNN e a CBS News. A aprovação do negócio poderá depender do clima político em Washington. Embora a Paramount tenha navegado com sucesso o panorama regulatório sob a administração Trump, a relação azedou recentemente após o Presidente ter atacado o programa 60 Minutes (propriedade da Paramount). Ironicamente, Ted Sarandos, da Netflix, parece estar a ganhar terreno diplomático, tendo reunido recentemente com Trump na Casa Branca.
Para além da política, a estratégia comercial diverge. A Paramount, estúdio fundado em 1912, posiciona-se como a defensora da experiência em sala, prometendo manter um maior número de filmes nos cinemas, capitalizando sobre o receio dos exibidores de que a Netflix reduza as janelas de estreia.
No digital, a visão da Paramount passa por uma consolidação total, fundindo a HBO Max com a Paramount+ num único serviço, ao contrário da estratégia da Netflix de manter as marcas operacionais. Com milhares de milhões em jogo e o futuro de marcas icónicas como a HBO em suspenso, a “guerra dos tronos” corporativa em Hollywood está longe de terminar.