Em silêncio e surpreendentemente (velhos hábitos demoram a morrer), a Apple retirou o carregador da caixa do novo portátil MacBook Pro M5, embora apenas na Europa (Reino Unido incluído). Passado o tempo da estupefação, começou a discussão em variadas plataformas e fóruns, todos procurando uma justificação para este acontecimento. Há muita gente a defender que é uma resposta às novas directivas europeias sobre carregadores e existe mesmo quem interprete que a Comunidade Europeia proíbe a inclusão de carregadores nos equipamentos (o que não podia ser mais falso). Era avisado quanto baste olhar para o que diz a CE, que tentou atacar o problema do lixo electrónico com algumas directivas, nomeadamente que se criasse ou adoptasse um standard de carregamento (medida que pessoalmente aplaudi) e que esse standard poderia muito bem ser o USB-C, esta sim, uma recomendação que é hoje já um facto estabelecido e bem assente (é nobre, da parte de quem defende que a decisão tem base ecológica, mas o mundo não é apenas a Europa e o Reino Unido.)
A CE também recomendou que fosse dada ao consumidor a possibilidade de escolha, isto é, se queriam ou não que o carregador fosse incluído na sua compra. Seria perfeitamente irracional para os fabricantes criarem dois tipos de produto final (um com carregador e outro sem) devido aos custos logísticos envolvidos. Nem a directiva obriga a tal. Se é perfeitamente razoável a não inclusão da peça, já não o é que o consumidor tenha um custo-extra (que não é tão pequeno quanto isso). Aquilo que seria razoável (e não cairiam à Apple os parentes na lama) seria que fosse dada a opção ao consumidor de requerer que o fabricante lhe entregasse o carregador. Sim, gratuitamente, passando o ónus da decisão ecológica e ambiental para o comprador, que vai tendo consciência plena destas escolhas. Mas a Apple não o fez, optando em vez disso por “ordenhar” mais umas largas dezenas de euros ao consumidor. E não se pode dizer que tenha sido um imperativo comunitário, porque a directiva não proíbe nada. Aquilo que me enerva é que decisões destas serão esquecidas dentro de muito pouco tempo e toda a gente, no futuro, achará isto normal. Eu, por enquanto, não acho.