Quando vi as peças televisivas sobre o encontro de há algumas semanas entre Tim Cook e Donald Trump, não pude deixar de recordar Steve Jobs e a lendária frase que lhe foi atribuída: «Prefiro ser um pirata que alistar-me na Marinha». Não consigo imaginar a figura do fundador a prestar tributos daquela forma (ou, na verdade, de outra qualquer…). Bom, mas Cook e a Apple têm, de alguma maneira, de tentar escapar à fúria tarifária de Donald Trump; toda aquela encenação de prendinhas de ouro e vidro me fez questionar o que diabo estava a ver.
Os especialistas chamam-lhe ‘o custo de fazer negócios’ e múltiplos fabricantes estão, desesperadamente, à procura de formas de escapar a tarifas alfandegárias que, sendo aplicadas a importações, mexerão, e de que forma, com os preços dos respectivos produtos. E a melhor forma de apaziguar os “deuses” é prometer investimentos no próprio país e agradar-lhes pessoalmente das formas que acharem mais convenientes, seja uma pirosice em ouro ou um avião novinho em folha.
Algumas empresas que viram barradas por completo as respectivas licenças de exportação acabaram por se comprometer a pagar generosas percentagens das suas vendas em países específicos. Aos meus olhos, esta espécie de economia de chantagem, uma espécie de imposto revolucionário admitido claramente pelos intervenientes, será, no curto prazo, muito benéfico para o orçamento federal; contudo, duvido que se consiga manter assim, no longo prazo.
Um pequeno fabricante que não consiga “despejar” uns milhões de dólares para evitar tarifas, não conseguirá competir em situação de igualdade, porque sofrerá 100% de custos de importação de chips e outros materiais (isto muda de semana a semana, pelo que nunca se sabe qual é a próxima tarifa). Aquilo que a Apple fez, anunciar investimentos que permitam, eventualmente, transferir a montagem de equipamentos para território americano, não é exactamente uma enorme novidade, dado que alguns dos componentes (ainda relativamente poucos) já são fabricados nos EUA. Já os custos de montagem são mais complicados de diminuir.
No fundo, Cook tenta apaziguar a fúria das tarifas ao despejar dinheiro em várias frentes, como que ganhando tempo – são os tais custos de fazer negócio. Não sei o que faria Steve Jobs, mas, possivelmente, embrulharia aquela embaixada numa jogada de marketing e acabaria por fazê-la. Mas lá que me custou ver, custou. E não foi só a mim.