Estou convicto de que não haverá no público da PCGuia alguém que nunca tenha interagido com uma IA – digo isto com um nível de confiança de 99,2%. Este valor há de ser quase igual para quem já foi alvo de uma oferta de emprego por telefone – arrisco que uma percentagem semelhante (porque os creio leitores formados e informados) rapidamente concluiu que se tratava de uma burla.
Trago aqui o tema das burlas telefónicas, porque há muito pouco tempo tive conhecimento de um projecto entre as empresas Phonely, Matai e Groq que resultou no desenvolvimento «agentes de inteligência artificial tão competentes a imitar comunicação humana que os clientes já não conseguem discernir se estão a interagir com uma máquina ou com um humano».
A percentagem será ainda semelhante para quem já viu e ouviu um reel no Instagram ou Facebook com um Trump a dizer algo completamente absurdo (ou, no caso dessa personagem, algo totalmente certo) mas que, no fundo, se validava que era clonagem de voz por IA – até recentemente, o difícil seria fazê-lo em tempo real. Ora, a realidade é que estas três empresas resolveram o problema da latência na IA conversacional, alcançando 99,2% de precisão e tempos de resposta inferiores a um segundo, permitindo interações fluídas e com qualidade humana.
O que se consegue obter e/ou convencer alguém a fazer quando ouve a voz de um familiar, numa conversa telefónica, com pergunta e resposta em tempo real e sem qualquer tipo de script e que é originada do número desse mesmo familiar?
Hoje bastam poucos segundos de um áudio de um qualquer vídeo numa rede social para gerar a voz de alguém. Juntando esta voz a técnicas de spoofing é possível apresentar no telemóvel do destinatário o número da pessoa de quem se clonou a voz.
O ‘Olá, Mãe; Olá, Pai’ enganou muita gente, mas muita gente não se deixou enganar. Daqui para a frente, não estou certo de que a literacia seja suficiente.