O mercado dos chips e de placas gráficas está mais activo do que nunca, impulsionado pelos videojogos, IA e pelas necessidades de hardware para centros de dados. Mas, o facto é que Nvidia ainda não tem nenhum concorrente à altura. É aqui que entra a Bolt Graphics, que apresentou a sua nova arquitectura de GPU, chamada Zeus, como um elemento disruptivo deste mercado. A empresa afirma que o seu modelo mais avançado consegue superar as placas de topo da Nvidia em performance bruta, mas uma análise mais atenta sugere que a Zeus poderá ser mais fumo do que silício, possivelmente reutilizando hardware para servidores para algo mais amigável para os jogadores.
A startup californiana Bolt Graphics revelou recentemente especificações detalhadas para as suas placas gráficas, alegando que superam a Nvidia RTX 5090 em utilizações de path tracing. Embora a gama Zeus pareça impressionante no papel, há vários detalhes que não batem muito certo.
A empresa revelou os seus planos ambiciosos pela primeira vez em Março, gabando-se de ter enormes quantidades de memória e processadores gráficos que são, segundo eles, ordens de magnitude mais rápidos do que os da Nvidia.
As especificações publicadas recentemente levam as promessas ainda mais longe – mas os números de TFLOP verticais da Bolt parecem baixos demais e a opção da empresa por formatos de VRAM mais antigos lança dúvidas sobre as credenciais de jogos destas placas.
As especificações para as quatro placas planeadas pela empresa: Zeus 1c-032, 2c-064, 2c-128 e 4c-256, parecem superar a RTX 5080, 4090, e até mesmo a 5090 em várias áreas, consumindo menos de metade da energia.
Por exemplo, a “1c-032”, de entrada de gama, diz-se que atinge 77 gigarays em path tracing em comparação com os 32 da RTX 5090. Inclui também 128 MB de cache, e a Bolt está a tentar reviver a VRAM amovível, permitindo configurações com até 160 GB de memória.
Tudo isto é conseguido com um consumo de energia de apenas 120 W, inferior até mesmo à RTX 5050. Numa alfinetada subtil à Nvidia, a Bolt enfatizou que a Zeus utiliza conectores de alimentação padrão de 8 pinos, que, segundo ela, são “conhecidos por não derreterem”.
Os modelos Zeus de gama mais alta aumentam significativamente as especificações da 1c, aumentando a cache, VRAM, giga-raios e o suporte a transmissões de vídeo 8K para níveis que parecem quase bons demais para serem verdade.
A placa topo de gama, a 4c, que consome ligeiramente menos energia do que a RTX 5090, oferece 307 gigarays, possui 512 MB de cache e suporta uns espantosos 2,3 TB de VRAM.
No entanto, todos estes números são teóricos. As estimativas de desempenho da Bolt baseiam-se em benchmarks sintéticos, não em testes no mundo real feitos com recursos a jogos verdadeiros. Além disso, a produção não deverá começar antes do final de 2026, o que significa que o hardware só deve ser disponibilizado em 2027. Nessa altura, tanto a AMD como a Nvidia terão provavelmente lançado hardware de nova geração.
Com este anúncio, a Bolt pode estar a tentar chamar a atenção e a transformar essa atenção em financiamento, para tirar partido da actual corrida ao hardware gráfico que é alimentada pela Inteligência Artificial.
As especificações também revelam áreas onde as placas Zeus ficam significativamente atrás da série RTX 5000 de gama alta da Nvidia. As enormes capacidades de VRAM dependem de LPDDR5X e DDR5, que são provavelmente muito mais lentas que as memórias GDDR6 e GDDR7 da AMD e da Nvidia.
Além disso, as contagens de TFLOP de FP32 e FP16 – cruciais para o desempenho em jogos – ficam bem abaixo das das RTX 5090 e, em muitos casos, até mesmo abaixo da RTX 5080.
Se os números da Bolt se revelarem precisos, a série Zeus poderá ser atraente para certas tarefas HPC (High Performance Computing), de rendering de imagens ou em servidores. Mas quando se fala de jogos que precisam de drivers optimizados, e isso demora muito tempo a desenvolver e optimizar, o desempenho no mundo real é necessariamente mais incerto.