Quem entra hoje num comboio Alfa ou espera pela ligação do Metro do Porto percebe imediatamente que o ecrã pequeno passou a ser a primeira escolha para tudo o que é passatempo digital. Os dados do relatório Digital 2025: Portugal confirmam isso.
Existem 14 milhões de ligações móveis activas, o equivalente a 135% da população, e a velocidade média de download atinge mais de 135 Mb/s, valor robusto para streaming 4K, videojogos na nuvem ou uma mesa rápida de poker.
Nesse ambiente hiper‑conectividade faz com que o telemóvel ameace destronar o computador como porta de entrada na Web. Mesmo que as pesquisas ainda se façam maioritariamente em desktop, um 55,85%, o smartphone já absorve 44,15% do tráfego e cresce todos os trimestres.
Seja para ver uma série no caminho para casa, dar um scroll rápido no feed ou aprender passo a passo como jogar poker razz antes de entrar num torneio, o smartphone é o bilhete de entrada para um mercado que já fatura centenas de milhões por trimestre. E que ainda tem muito espaço para crescer.
Além disso, o Android domina 67,8% do mercado móvel em Portugal, com o iOS nos 31,8%, dados que ajudam a explicar por que razão os programadores optimizam primeiro para apps Android e só depois para outras plataformas.
A abundância de ligações não é mero detalhe estatístico. Traduz‑se num quotidiano cada vez mais pragmático. Segundo a ANACOM, a taxa de penetração móvel atingiu 173,3 por 100 habitantes no 1º trimestre de 2025, com 18,4 milhões de acessos habilitados.
Significa que muita gente carrega dois SIM (ou um eSIM extra), um para trabalho, outro para lazer, e leva na algibeira todo o seu “centro de entretenimento”. Esse lazer, claro, inclui o jogo online. O mais recente relatório do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ) mostra que, só entre janeiro e março, o sector movimentou 284,7 milhões de euros de receita bruta.
Mas não é só de apostas que vive o lazer de bolso. Apps como Netflix, TikTok ou jogos casuais esgotam pacotes de dados em minutos. A prova de que o hardware acompanha o apetite digital está na avalanche de smartphones económicos capazes de puxar 5G. Especificações como 8 GB de RAM e baterias acima de 5000 mAh já são padrão no segmento de entrada.
Essa democratização de dispositivos reforça um ciclo virtuoso. Mais gente ligada significa mais consumo de entretenimento móvel e maior investimento em redes. O resultado disso é que a quota de acessos 5G já ultrapassa os 19%, enquanto o 4G continua a ser o tapete que garante cobertura nacional, com 59%.
Naturalmente surgem preocupações com segurança e privacidade. O regulamento RGPD impõe‑se às apps de jogo online, que agora exigem autenticação biométrica ou multifactor para proteger contas e fundos. Operadores sérios alojam servidores na UE, reduzem latência e aplicam encriptação ponto‑a‑ponto.
Condições essenciais para que jogos rápidos no smartphone não se transformem numa dor de cabeça. Com tudo somado, se pode dizer que Portugal continua a navegar muitas horas em frente ao PC, mas é no bolso que carrega o verdadeiro centro de comando do dia a dia digital.