A BBC Radio vai limitar as suas transmissões online internacionais. Se acham que isto não é importante para vocês, porque nem sabiam que podiam ouvir os vários canais da emissora britânica no vosso smartphone, estão enganados. É mais um sinal de que os gestores públicos não sabem o que estão a gerir.
Talvez inspirados por ideias do outro lado do Atlântico, a BBC decidiu cortar as emissões online para ouvintes internacionais. Para mim, acabou a música alternativa na Radio 6 e o programa do Iggy Pop aos Domingos à tarde. Nem sobrou o Night Tracks da BBC 3, para desanuviar de um dia de trabalho.
É uma decisão retrógrada que coloca a cultura britânica ao nível da norte-coreana. Isolados pelo Brexit, os músicos, que já não têm apoio nenhum de editoras, têm mais dificuldade em promover o seu trabalho (um dos melhores produtos de exportação do Reino Unido) além-fronteiras.
E não é só a produção britânica. Como emissora global, as rádios da BBC tocavam músicas de outros países. Conheci mais fadistas de nova geração aos Domingos de manhã, a ouvir a Cerys Matthews, que nos programas da tarde da TV portuguesa.
As razões são – dizem – financeiras. E de copyright. Há despesas e investimentos a ter em conta, mas acho que não fizeram bem as contas ao custo de remover uma presença cultural fortíssima no panorama mundial. Foram 644 milhões de reproduções de conteúdo áudio da BBC Sounds, só no quarto trimestre de 2024.
OK, Mr.Beast tem 375 milhões de seguidores no YouTube. Um vídeo dele com o Ronaldo e um prémio de um milhão de dólares tem 237 milhões de views. Mas Mr.Beast não representa a cultura de um país. Representa uma cultura individualista que não traz nada de valor para a espécie humana. O nome diz tudo.
Disse que os gestores públicos não sabem o que estão a gerir? Desculpem: muitos sabem perfeitamente. Existe um movimento ideológico interessado em destruir recursos estatais que são, neste momento, o único travão à existência de monopólios. Mas, a que preço?
É assim que começa.