Durante o dia, crio conteúdos para empresas, escrevo crónicas e estudo o impacto das tecnologias digitais de comunicação na sociedade. Depois, faço música até tarde e tenho sono de manhã. Mas o que a IA pode fazer à arte mais poderosa da Humanidade está também a tirar o sono aos músicos.
Bem vindos a mais um episódio de ‘Será que a inteligência artificial vai dar cabo de [inserir uma actividade humana]?’. Hoje, a variável é ‘música’. Não bastou a Apple ter esmagado as ferramentas da criatividade num anúncio a um tijolo de silício útil, mas que substitui nada, nem nos torna mais criativos – é mais uma ferramenta -, como tinha de surgir a ElevenLabs Music, que promete gerar canções inteiras a partir de uma frase.
Fui ouvir os resultados. O X/Twitter da ElevenLabs partilhou quatro faixas em quatro estilos diferentes: country moderno, jazz, R&B eletrónico e indie rock. Os estilos mais formulaicos e sintetizados – o neo-country e o R&B – estão tal e qual o que se ouve por aí. São músicas bem polidas e que não deixam memória – ou seja, música pop actual ou música para quem não gosta de música.
A versão jazz tem solos ridículos e soa a paródia. O indie rock ofendeu-me: parece o anúncio da Apple, mas com bandas dos anos noventa e um vocalista que não canta bem. É isso que o indie rock é para as big tech? Um urbano-depressivo a desafinar sobre situações idiotas da sua vida? Touché, mas errado.
E o que é que isto tem de mal? A resposta a esta e outras questões são dadas na entrevista de Ted Gioia – crítico, historiador musical e também futurista – a Rick Beato, mega youtuber especializado em música. A entrevista é longa, mas fiquem com algumas das ideias principais: o Spotify rouba rendimentos aos músicos com IA, há falta de transparência no uso de IA e os músicos de carne e osso estão a ser substituídos por “música” sintética.
Mas há esperança para gajos como eu, que não tocam mal, mas também não cantam bem. Desde que sejam autênticos. MusicGPT, canta aí um blues sobre o que te faz sofrer no algoritmo. Em Mi menor.