Perdemos o contacto com o mundo real. A nossa percepção está deturpada por filmes em que as leis da Física e do físico não são iguais às que regem o Universo e o nosso corpo, por jogos em que morremos para renascer logo a seguir. Estamos tão alienados que até a curvatura da Terra é uma conspiração.
A imaginação e o ‘se’ são fundamentais no desenvolvimento das crianças. É o que as move na exploração do Mundo e nas perguntas que fazem aos pais, que respondem com o conhecimento que adquiriram com o tempo. É o que as fascina nos contos de fadas e de animais que falam. Mas, o que acontece quando os pais acreditam em histórias da carochinha?
A incompreensão do Mundo leva a que duvidemos da realidade elementar da queda das Torres Gémeas, dos OVNI e das vacinas. Tudo o que nos escapa à compreensão, por mais que a Ciência explique – ou especialmente por isso – é, para muitos, ficção. Uma ideia que suportam com narrativas sem factos comprovados, mas que lhes aplaca a lógica.
Deve ser triste ser um crente das conspirações, tão é grande o medo e a incapacidade de entender a mecânica do Mundo e das coisas que o compõem, tão escassa essa qualidade inata das crianças: a curiosidade que nos leva a querer aprender mais, a humildade de recorrer a quem sabe mais do que nós.
Mas, depois de décadas a engolir ficções mascaradas de realidade – dos reality shows ao espaço performativo das redes sociais – em escalas de disseminação cada vez maiores, não é de admirar que tenhamos dificuldade em distinguir o que é, do que nunca poderia ser.
As teorias de conspiração têm um plano de marketing, com objetivos mensuráveis. A mentira e o exagero nas redes sociais passam como uma “brincadeira” ou “performance”, quando são fraude com o objectivo único de fazer dinheiro para quem as promove. De esquemas de crypto a programas eleitorais, de cursos para tudo a produtos que servem para nada, todos capitalizam a insegurança de quem sufoca no excesso de informação e nada sabe.
Não tenham medo. Sejam curiosos.