Woke

Sendo que as informações trocadas com estes chatbots tendem a ser muito privadas, e do foro íntimo, é crucial que os utilizadores estejam avisados para os perigos que correm.

Por: António Simplício
Tempo de leitura: 3 min
WangXiNa/Freepik

Não sei se a cultura woke me permite uma afirmação do género ‘já não há homens como antigamente’. Nem como seria categorizado. Pouco importa. Neste caso, serve apenas de chavão para uma nova trend que tem sido especialmente relevante na China…os namorados de inteligência artificial. Não me refiro aos humanos, cuja esperteza saloia busca conhecimento nas redes sociais. Refiro-me a um conjunto de aplicações que promovem «conforto em longas horas de conversa e demonstram uma maior empatia, nomeadamente em alturas de maior suporte como durante as dores do período ou do stress do trabalho». Coloquei como citação, dado que “pesquei” directamente do artigo que mencionava a experiência de uma mulher chinesa de 25 anos, que encontrou na app Glow a interacção que não encontrava no seu meio social. Outros gigantes chineses como a Baidu e a Tencent também têm apps para este nicho de mercado. Se a Wantalk aborda mais o romance histórico e fantasioso com príncipes e imortais. A Weiban proporciona conversas realísticas amorosas com o namorado virtual.

As potenciais repercussões desta tendência são, ainda, pouco conhecidas, mas existe já uma crescente preocupação sobre os efeitos a longo prazo nas competências sociais e no valor das ligações humanas. Coisa que, de resto já se verifica um pouco com o excessivo uso das redes sociais e se reconhece depois pelos profissionais de saúde mental.

Não pense, no entanto, que esta tendência está limitada à cultura oriental ou que as preocupações se centram apenas nas relações sociais humanas. Os potenciais riscos de segurança, ou falta dela, são gigantescos. Um estudo da Mozzilla Foundation revelou a Romantic AI injectou quase 25 mil ad trackers em apenas um minuto de utilização.

A verdade é que quase nenhuma empresa nesta área revela que tipo de informação retém dos utilizadores: se e como a armazena, se a vende ou até se a usa para treinar novos modelos de IA. Acresce a falta de transparência das tecnologias usadas nos modelos de IA; a possibilidade de utilização de passwords básicas, de usar um login Google ou do Facebook; e até mesmo, o anonimato a que algumas empresas se votam, não revelando qualquer contacto directo ou onde estão sediadas.

Sendo que as informações trocadas com estes chatbots tendem a ser muito privadas, e do foro íntimo, é crucial que os utilizadores estejam avisados para os perigos que correm.

Diria até mais: dado que a Replika ou a EVA AI parecem demonstrar que, a ocidente, ao contrário do mercado chinês, as aplicações estarão mais voltadas para um público masculino, não seria mais frutífero para o futuro da espécie humano colocar estes dois polos em contacto? Mais que antagonistas, parecem complementar-se.

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