A Câmara Municipal de Lamego partilhou, online, um cartaz da Feira Medieval da cidade que se tornou viral pelas piores razões – duas, em concreto: um erro histórico e outro relacionado com o método de criação da imagem do rei D. Afonso Henriques.
Começamos por este último: no Twitter, vários utilizadores notaram que o desenho tinha sido criado por IA (provavelmente, com um prompt no Midjourney ou no DALL-E), pelo facto de, na mão esquerda, o rei ter… seis dedos.
- Publicidade -
Este é um problema comum na criação de pessoas com IA, quando os prompts não são, depois, refinados com novas instruções, para corrigir estes erros. A decisão da Câmara de Lamego em recorrer a inteligência artificial foi criticada, nas redes sociais.
«O Municipio de Lamego a utilizar AI para os seus cartazes. Só resta saber se pagaram a um “artista” de prompts ou se nem ponderaram pagar a um artista a sério… que vergonha alheia. Cada vez menos vontade de viver neste país que só quer meter dinheiro ao bolso», escreveu o concept artist e ilustrador André Mateus, no Twitter.
Mas, mais grave que usar IA para criar uma imagem promocional para uma feira medieval, é o próprio conceito do evento, que fira em torno de um facto histórico… inventado. A denúncia foi feita pelo historiador Paulo M. Dias, também no Twitter.
«Os mitos da História de Portugal continuam bem vivos em 2023, agora com uma alusão às Cortes de Lamego que pura e simplesmente NÃO existiram. O município de Lamego achou boa ideia cimentar a sua feira medieval com um mito absurdo».
Paulo M. Dias aproveita para criar uma thread que explica detalhadamente o “embuste” das Cortes de Lamego: «Nunca existiram, foram uma invenção do séc. XVII para justificar as decisões políticas do seu tempo, ou seja, a oposição aos Habsburgo. E por isso o seu uso pela câmara de Lamego para a feira medieval demonstra uma completa ignorância histórica, conclui o historiador.
Mais um presidente da câmara a precisar de reciclagem…como quase todos por estas ou outras razões!!
Não é um 5.o dedo, mas, sim, a continuidade de uma das pontas ou borla do çíngulo ou cordão com que os sacerdotes apertam as alvas litúrgicas. A mão esquerda, muito naturalmente, cobre parte do laço com que os presbíteros apertam o cordão
à cintura e repucham cada extremidade para debaixo do cordão ajustado à cintura, fazendo descair as pontas do mesmo para o lado direito e esquerdo, respectivamente.Verifique que, do lado da mão direita se vê o mesmo cordão, embora não seja visível a borla dessa extremidade do mesmo cordão.
Viva a indignação!! Ai que o cartaz foi feito com recurso a AI, cuidado que é perigoso, há um dedo a mais que pode provocar dano no bem estar dos indignados. Poupem-nos na mesquinhes. E um historiador indignar-se com o óbvio, que é toda a gente saber que as cortes de Lamego não existiram de facto, mas que tal não lhes retira a importância histórica de terem sido “inventadas” posteriormente, como ele próprio refere. Sr. Prof. toda gente sabe disso, mas o que é que isso importa para um evento de animação que é lúdico e não científico? Conhece o “guião” por trás dessa animação? A sua vida é toda factual, historicamente comprovável, sem ficção, sem animação? Deve ser um bocejo. Enfim, um grande viva aos indignados!
Concordo com a opinião de João Santos e reforço-a com o seguinte:
Quais são as provas científicas que demonstram a existência do “milagre de Fátima”? Por acaso isso impediu que se transformasse no que todos conhecem?
Não entendo o porquê de a tão “sagrada” História manter a versão de que D. Afonso Henriques vivia em Guimarães, quando todos sabem e há provas de que ele vivia junto do seu aio (Egas Moniz), senhor do Paço d’Álvares (Tarouca) e que habitou em Britiande (Lamego)? Por isso, a primeira Praça por ele conquistada foi Lamego e, certamente, com exército criado nos arredores. Por conhecer bem a região, entendeu a importância (à época) de Trancoso e apressou-se a conquistá-la.
Mas, isso não vem nos livros. Porquê? A quem não interessa que se saiba?
Nem tudo o que se conta na tão “sagrada” História é 100% factual.
No entanto, acho de muito mau gosto estes comentários, feitos gratuitamente, apenas com o objectivo de desqualificar as festividades lamecenses.
E já que se fala de História… A invenção das “Côrtes de Lamego” teve, ou não, influência nos factos que determinaram o futuro de Portugal? Se sim, deve ser tratado como “facto histórico”, uma vez que já António Mattoso afirmava que “o objecto da História é estudar todos os acontecimentos do passado que, em determinado momento e certo meio, apressaram, impediram ou retardaram o desenvolvimento das condições materiais, intelectuais e espirituais em que actualmente vivem os homens, ou seja, a sua civilização”.
Logo, reais ou imaginárias, as “Côrtes de Lamego” foram, são e continuarão a ser um “facto histórico” e deve ser publicitado e usado em proveito de qualquer evento que o Município tenha por bem realizar.
Podem criticar! Não podem negar!