A Internet não é o que era. Tudo tem um propósito comercial, onde o utilizador é simultaneamente consumidor e produto. Nada é grátis, mesmo quando dizem ser. O objectivo é orientar o indivíduo para pensamentos de massa, fazendo-o sentir-se original e diferente. A Internet, hoje, é o lodo do capitalismo.
Antes que digam que sou um gajo de esquerda (hoje em dia, parece que é insulto), aviso já que sou um anarquista com necessidades organizativas. Por isso é que me apaixonei pela Internet, quando me liguei por RDIS na escola, ainda no século passado. Pela primeira vez, tinha acesso a informação que dificilmente teria no meu mundo físico.
Hoje, a realidade é outra. A Internet é feita de segmentos, acessos privilegiados, blackouts regionais e – ainda me custa aceitar isto – muita censura. O seu futuro, que é o mesmo que dizer ‘o nosso’, está nas mãos de adultos que gerem os seus negócios em birras e caprichos.
Vivemos num estado de distracção contínua, em situação perpétua de crise gerada para criar inseguranças que podem ser resolvidas com uma nova app ou produto de que não sabíamos de que precisávamos e que nos fazem parecer muito cool.
Os últimos bastiões da Internet comunitária são a Wikipedia, o Archive.org e o Reddit. A Wikipedia andou a pedir apoio financeiro para se manter acessível a todos (toma lá dez euros, Jimmy Wales) e o Archive.org foi a tribunal, porque as quatros grandes editoras de livros não querem que faça o trabalho que as bibliotecas – esses sítios sujos onde os livros podem ser lidos de graça – sempre fizeram. Onde é que isto vai parar?
O Archive.org tem uma ferramenta para isso: a WayForwardMachine. Metam um URL e vejam como será em 2046. Spoiler: muitos pop-ups de corporações que controlam as ferramentas e os acessos, e avisos de um Ministério da Verdade orwelliano. Orwell escreveu sobre os riscos do comunismo, mas é o capitalismo selvagem que usa os métodos de controle descritos no 1984, o livro que podem ler de graça em todo o lado, menos nos EUA.
A ironia é cruel.