Uma breve história da evolução da PlayStation

Por: Pedro Tróia
Tempo de leitura: 18 min

Quando a PlayStation 1 surgiu em 1994, a ideia de se construir uma máquina dedicada a executar exclusivamente jogos já era antiga.

No final dos anos 70 do século passado, a Atari lançou a 2600 e em 1983 a Nintendo lançou a NES, seguida da Super Nintendo. Ambas utilizavam cartuchos ROM como suporte para os jogos.

Os avanços na tecnologia de processamento geral e de vídeo, em conjunto com advento dos suportes ópticos (CD e DVD), que tinham uma relação muito vantajosa entre capacidade de armazenagem e o preço, permitiram o aparecimento de novas consolas muito mais poderosas que as anteriores, já com gráficos em 3D e jogos muito mais envolventes que os que eram possíveis nas gerações anteriores.

É neste contexto que a Sony começou o desenvolvimento do hardware que se transformaria na PlayStation 1.

PlayStation 1

A PlayStation 1 foi projectada originalmente em 1988, para ser uma parceria entre a Sony e a Nintendo para construir uma Super Nintendo com drive de CD-ROM.

Depois de anos a desenvolver o hardware e software, as duas empresas não conseguiram chegar a acordo acerca da divisão dos lucros resultantes da parceria, por isso Nintendo cancelou-a e optou por fazer uma nova parceria com a Philips, usando exactamente a mesma tecnologia.

O único protótipo sobrevivente da Nintendo PlayStation.

Naturalmente, a decisão da Nintendo de terminar a parceria não caiu bem junto da administração da Sony, que decidiu nomear Ken Kutaragi (que ficou conhecido como o “Pai da PlayStation”) para desenhar uma consola rival.

Em Maio de 1992, as negociações com a Nintendo acabaram e, dois meses depois, foi realizada uma reunião para decidir o destino da PlayStation. Foi nessa reunião que ficou decidido construir uma consola com uma drive CD-ROM, capaz de executar jogos com gráficos em 3D. No entanto, houve muita discussão dentro da Sony, porque muitos queriam manter a utilização de gráficos 2D e outros batiam-se pela utilização de polígonos 3D.

A decisão de usar gráficos em três dimensões foi consagrada no desenho do logótipo original da PlayStation, por Manabu Sakamoto. O logo tem uma ilusão óptica com um P em primeiro plano e um S em segundo plano dando a impressão de ser um objecto tridimensional.

Uma das divisões da Sony que mais influência teve na fundação da PlayStation foi a Sony Music, que ajudou a atrair pessoas muito talentosas e moldou a forma como a arquitectura da consola foi desenhada.

1993 foi o ano em que a PlayStation teve luz verde para avançar, depois de anos de desenvolvimento de hardware e de software.

A primeira PlayStation foi lançada em Dezembro de 1994 no Japão e em Setembro de 1995 no resto do mundo com um preço de 299 dólares, o que a tornava substancialmente mais barata que a Sega Saturn, a consola mais vendida na altura.

A data de lançamento fez com que a Playstation 1 chegasse ao mercado com mais de um ano de avanço sobre a Nintendo 64 (que ainda usava cartuchos em contraste com os CD Pretos usados na PS1), o que foi muito importante neste momento inicial para o sucesso da nova consola da Sony.

Em Dezembro de 2003, tinham sido vendidas mais de 102 milhões de unidades da PlayStation 1 em todo o mundo e quando chegou ao fim de vida em 2006 foi a primeira consola a vender 120 milhões de unidades.

Este sucesso foi ajudado, sem qualquer sobra de dúvida, pelo excelente catálogo de jogos que acompanhou a consola durante o seu tempo de vida, como: Resident Evil, Tomb Raider, Spyro, Final Fantasy, Metal Gear Solid ou Gran Turismo. Outros factores que contribuíram para o sucesso desta consola foi a presença de uma drive de CD, capaz de reproduzir CD de música e também à política de marketing da Sony.

PlayStation 2

Quando chegou a altura de substituir a PlayStation 1, a Sony decidiu lançar duas consolas em vez de apenas uma. Em conjunto com a PlayStation 2, a Sony lançou também a PlayStation One, uma versão mais pequena da Playstation 1. No primeiro ano após o lançamento, a PlayStation One conseguiu vender mais que a PlayStation 2.

A PlayStation 2 podia ser usada na vertical e na horizontal.

Apesar de ter tido um arranque mais lento que a PlayStation 1, a PlayStation 2 acabou por se tornar a consola mais vendida de todos os tempos, com mais 155 milhões de unidades em 2012.

Fisicamente, a PlayStation 2 era substancialmente maior que a PlayStation 1 e foi a primeira que oferecia possibilidade de ser instalada tanto na horizontal como na vertical. O processador era de 128 bits e oferecia a possibilidade de reproduzir jogos, CD de música e DVD com filmes. Se pensarmos que, quando a PlayStation 2 saiu, um leitor de DVD era caro e apenas conseguia ler DVD, pode imaginar-se que esta consola estava destinada a ser um grande sucesso.

Esta foi também a primeira consola da Sony a oferecer a possibilidade de instalar um disco rígido e um modem para aceder a serviços online.

Os títulos mais conhecidos para a PlayStation 2 incluem Kingdom Hearts, Jak & Daxter, Beyond Good & Evil, God of War, Okami, entre outros.

Posteriormente, a Sony decidiu lançar uma versão mais compacta (e barata) que potenciou ainda mais as vendas nesta geração.

PlayStation 3

Em 2006, embalada pelo sucesso das suas duas primeiras consolas, a Sony lançou a terceira geração da sua máquina de jogos.

Usando uma solução de hardware diferente de tudo o resto que tinha sido feito até àquela altura, com a PlayStation 3 a Sony tentou comercializar uma consola mais poderosa e versátil do que tudo o que tinha sido construído até ali.

A história começa em Março de 2004 com o acordo entre a Sony e a IBM para permitir o acesso à tecnologia de microprocessadores da marca americana para utilização na geração de consolas seguinte. O resultado de esta parceria foi o processador Cell, que, na altura era o mais poderoso que se podia encontrar dentro de uma consola.

Este processador tinha algumas características que o tornavam consideravelmente diferente do resto dos processadores que estavam disponíveis na altura. Era modular e construído para o processamento paralelo de informação.

Mas, infelizmente, a sua complexidade, em conjunto com a complexidade dos kits de desenvolvimento entregues pela Sony aos programadores fizeram com que apenas os estúdios de desenvolvimento da Sony conseguissem criar títulos que conseguiam tirar partido completamente do hardware.

A PlayStation 3 original. Pode ver-se à esquerda da drive Blu-ray, a tampa que protegia as entradas dos leitores de cartões. Ainda mais à esquerda, pode ver-se a tampa do sítio onde está o disco rígido.

Ainda assim a PlayStation 3 teve alguns que fizeram história, como Metal Gear Solid 4, Uncharted, Little Big Planet e The Last of Us.

No que respeita a versatilidade, a Playstation 3 original era uma obra de arte, incluía leitores de cartões de memória SD e CompactFlash, um disco rígido de 500 GB, ligações WiFi e Bluetooth e ainda um processador da Playstation 2 para garantir a retrocompatibilidade com os títulos da geração anterior. A compatibilidade com os suportes que existiam na altura era a mais completa dessa geração: lia discos Blu-ray, DVD e CD e Super Audio CD.

Inicialmente, esta consola também foi a primeira (e até agora a única) que podia ser usada como um computador devido a permitir a instalação de um sistema operativo Linux que deixava utilizar aplicações com teclado e rato. Esta funcionalidade foi removida pouco tempo depois devido a problemas de segurança.

Posteriormente foram lançados dois modelos mais compactos em que foram removidos vários componentes, como os leitores de cartões e o processador da PS4.

Apesar das expectativas da Sony, a PlayStation não teve o sucesso que tinha tido PS2. As razões apontadas foram a dificuldade em tirar partido do hardware e erros na política de preços. No final da vida, em 2017, a PlayStation 3 tinha vendido “apenas” 87 milhões de unidades.

PlayStation 4

O insucesso relativo da PlayStation 3 serviu de lição para a Sony. Por isso, a PlayStation 4 foi um “animal” completamente diferente.

Para resolver os problemas com a complexidade de desenvolvimento do software, a Sony decidiu usar um processador X86, com processador gráfico incluído, fabricado pela AMD e em tudo semelhante ao mesmo componente usado na concorrente Xbox One. O processador da PlayStation 4 original funciona a 1,6 GHz e o GPU a 800 MHz. Estão presentes ainda 8 GB de memória RAM GDDR 5, mais 256 MB de memória DDR 3, para tarefas em segundo plano.

A PlayStation 4 original.

A PlayStation 4 tem um disco rígido SATA com 500 GB, que pode ser substituído facilmente pelo utilizador, tal como já acontecia na PlayStation 3. As PlayStation são as únicas consolas de mesa que permitem a actualização do disco rígido sem que se perca a garantia.

O desenvolvimento da PlayStation 4 começou em 2008 e a Sony trabalhou em conjunto com a Bungie que ajudou no desenvolvimento do comando para que este se adaptasse melhor à utilização em jogos FPS. Os sistemas de desenvolvimento começaram a chegar aos programadores em 2012 e eram PC que usavam o mesmo processador que estava presente na consola.

A quarta geração de consolas da Sony chegou às lojas 2013, e foram vendidas cerca de 113 milhões de unidades até Setembro de 2020.

A PS4 teve muitos jogos icónicos, como Bloodborne, Final Fantasy VII Remake, Spider-Man, e God of War (que se mudou da mitologia grega para a mitologia nórdica).

PlayStation 4 Pro

Em Setembro de 2016, a Sony anunciou uma nova consola que não sendo a sucessora da PlayStation 4, seria uma ponte entre gerações. Esta versão melhorada da PlayStation 4 oferecia várias vantagens sobre a versão original, nomeadamente um processador mais rápido, mais memória (1 GB) para as tarefas em segundo plano, a possibilidade de reproduzir gráficos em 4K e ligações USB 3.1. Visualmente, a PS4 Pro é muito semelhante à PlayStation 4, mas um pouco mais espessa.

A PlayStation 4 Pro.

PlayStation 5

As duas versões da PlayStation 5.

A nova PlayStation 5 usa mais uma vez um processador AMD Zen 2 fabricado segundo um método de 7nm. Tem 8 núcleos que podem chegar a uma velocidade máxima de 3,5 GHz.

O processador gráfico, também AMD, é baseado na arquitectura RDNA 2, a mesma utilizada nas recentes placas Radeon RX 6000. Este GPU tem 36 ‘compute units’ que podem funcionar a uma velocidade máxima de 2,23 GHz. Este processador pode chegar aos 10,28 teraflops de velocidade máxima de processamento e suporta aceleração ray tracing por hardware.

Ambos os processadores são monitorizados através de um sistema de aceleração que inclui a tecnologia SmartShift da AMD que ajusta a frequência destes sistemas baseando-se no que os dois chips estão a fazer em cada dado momento, de forma a manterem um consumo energético e desempenho constantes.

A PlayStation 5 tem 16 GB memória SDRAM GDDR6 que tem uma largura de banda máxima de 448 GB por segundo. As comunicações podem ser feitas através Bluetooth 5.1, wifi 802.11ax ou por rede gigabit por cabo.

O sistema de arrefecimento utiliza uma ventoinha de 120 mm com dois lados que serve para puxar ar frio para o dissipador de calor. Em vez de pasta térmica, a PS5 tem uma ligação entre o processador e o dissipador de ‘liquid metal’.

Tal como aconteceu com a PS3 e PS4, o utilizador pode fazer um upgrade ao sistema de armazenamento. Mas, se nas gerações anteriores, a substituição do disco actualizava todo o armazenamento, no caso da PS5, o utilizador apenas acrescenta espaço ao já existente através da instalação de um SSD m.2, porque o SSD incluído (que tem 825 GB de capacidade) está soldado na motherboard, logo não pode ser removido.

O SSD da Playstation 5 está soldado à motherboard. O componente maior no cento da imagem é o controlador que inclui funcionalidades de descompressão de dados por hardware.

O sistema de armazenagem consegue um débito máximo de 5,5 GB por segundo e inclui algumas funcionalidades fora do normal para acelerar a leitura de dados para jogos como descompressão de dados por hardware e um novo protocolo da RAD Game Tools de forma a eliminar os pontos em que havia engarrafamento de informação devido à falta de velocidade.

Ao contrário do que aconteceu com as gerações anteriores, em foi lançada uma versão inicial e depois versões mais pequenas, ou melhoradas (como no caso da PlayStation 4 Pro), a PlayStation 5 tem duas versões distintas na altura do lançamento, com e sem drive óptica.

Tal como as consolas anteriores, desde a PlayStation 2, também a PlayStation 5 pode ser usada na vertical ou na horizontal. No entanto, devido à sua forma mais curva, é necessário usar um pedestal que vem incluído na caixa.

As ligações USB são Type-C na frente (só uma) e Type-A (três, duas atrás e uma no frontal).

A PlayStation 5 suporta gráficos até 8K a 30 fps.

Comando novo!

Para além dos gráficos e da velocidade, uma das grandes novidades que a PlayStation 5 inclui é um novo comando. Até à PS4, os comandos eram essencialmente os mesmos que surgiram na PlayStation 1. A única evolução digna de nota neste campo aconteceu a partir da PS3, quando os comandos perderam a ligação por cabo e passaram a usar Bluetooth. Mais tarde, já na era da PS4, os comandos passaram a incluir de série uma zona táctil e vibração.

O comando da PlayStation 5, chamado DualSense, é realmente novo, com um design é mais próximo do da Xbox. É maior do que os anteriores e tem gatilhos adaptáveis com feedback háptico que conseguem alterar a resistência aos comandos dos utilizadores. O novo comando inclui um microfone que permite aos utilizadores falarem sem a necessidade de usar um headset. A ligação é USB Type-C.

Sou director da PCGuia há alguns anos e gosto de tecnologia em todas as suas formas. Estou neste mundo muito por culpa da minha curiosidade quase insaciável e por ser um fã de ficção científica.
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