Re/Viver

Por: Alexandre Gamela
Tempo de leitura: 2 min
Hammer & Tusk / Unsplash

O projecto engraçado de um programador de São Francisco pode ter aplicações incríveis, das comerciais às terapêuticas. Sim, vou falar novamente de Wenders, Charlie Kaufman e da maquineta do Strange Days. Mas a estrela é Lucas Rizzotto.

O primeiro vídeo do canal de YouTube Lucas Builds the Future é literalmente uma viagem ao passado. Em ‘I Built a REAL-LIFE Time Machine!’ o programador Lucas Rizzotto explica, de forma muito divertida, como é que criou uma máquina do tempo usando óculos do Snapchat e as suas capacidades de programação.

O vídeo mostra como, durante um ano, Rizzotto gravou casualmente clips de 30/60 segundos (que ocuparam cerca de 7 TB) e criou um interface a la Regresso ao Futuro. Muitas peripécias depois, sentou-se para testar a sua experiência. Ou melhor, re-experienciar as suas experiências.

Segundo ele, é mais que ver clips dispersos. O cérebro parece refazer as ligações que criou na altura, reconstruindo a experiência sensorial, as emoções. A re-experiência é real. «O meu próprio fantasma a vaguear pela minha vida», é das frases mais marcantes de Rizzotto. Vejam o vídeo todo, é uma divertida lição sobre criatividade.

As implicações são enormes, complexas e foram já exploradas em filmes como o Até ao Fim do Mundo, Strange Days e em grande parte da obra de Charlie Kaufman, com destaque para o Synecdoche, NY, se bem que aqui é mais um Being John Malkovich. Quem somos, se re-vivermos permanentemente o passado? Metafísicas à parte, esta pode ser uma ferramenta muito eficaz para doentes com stress pós-traumático e outras patologias e também um produto capaz de reduzir o Instagram a um velho álbum fotográfico.

Com a ajuda da AI, podemos até criar um mundo que cruza as memórias de todos os utilizadores, uma espécie de Sims do passado, com anúncios a promover eventos, viagens a repetir e restaurantes. Essa seria uma rede social muito difícil de bater.

Lembrem-se: um dia, esquecer será uma coisa do passado.

A mirar o espelho negro das redes sociais desde ainda antes de haver uma série de TV sobre isso.
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