As dores da idade maior

Por: Alexandre Gamela
Tempo de leitura: 2 min

Esta crónica era para ser mais levezinha. Ia falar dos trinta anos da World Wide Web, feitos em Março, e de como estava na idade adulta, com um empréstimo no banco, um emprego de que não gostava e com mau ambiente. De como perdeu aquele brilhozinho nos olhos, próprio da juventude, cheio de potencial que não se concretizou apesar das possibilidades parecerem infinitas.

Ia recordar o mundo maravilhoso do Geocities, morto para os ocidentais há dez anos, mas defunto apenas agora no Japão. Ia falar dos sites carregados de GIF, tipos de letra fluorescentes, música de 8-bit em fundo. De como o Geocities só poderia sobreviver mais dez anos num país daqueles.

Ia ser uma crónica gira, mas veio um imbecil matar cinquenta pessoas em directo para as redes sociais e estragou tudo. Um imbecil nascido no lodo da estupidez de pequenos antros asquerosos que destilam ódio, intolerância e frustração.

A World Wide Web era bem mais interessante e divertida quando éramos poucos e a inteligência média era superior à do mundo analógico. Não é arrogância, é verdade. A democratização (=comercialização) do meio nivelou tudo por baixo. Temos toda a gente online, o que inclui todos os idiotas. Que agora encontraram os seus cantinhos para prosperar.

Isto parece mal vindo de um entusiasta que passou metade da sua vida adulta a proclamar as maravilhas do mundo digital. Que ainda defendo: é um espaço fantástico cheio de ferramentas e possibilidades incríveis.

O problema são as pessoas. Como não podemos voltar ao Geocities (santa epilepsia!), temos que encontrar uma solução. A WWW não foi inventada para que a estupidez se manifestasse globalmente. Sim, vivemos num globo, seus idiotas crentes na terra plana.

Vamos ser adultos?

A mirar o espelho negro das redes sociais desde ainda antes de haver uma série de TV sobre isso.
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