Como configurar o Kodi para trabalhar com um NAS

Por: Pedro Tróia
Tempo de leitura: 12 min

Muitas pessoas que têm uma ‘Android Box‘ ou Smart TV podem usar o Kodi, o programa de gestão e reprodução de conteúdos digitais gratuito mais conhecido do mundo, ligam drives externas a esses dispositivos com os conteúdos para reprodução.

Isto funciona, mas oferece alguns problemas principalmente estéticos (ninguém gosta de ter na sala mais um caixote com cabos ligados à TV ou Box) e de ruído, porque, a menos que seja uma drive SSD, os discos rígidos fazem sempre barulho quando estão em funcionamento.

Existe uma forma de resolver isto, que oferece algumas vantagens, para além da estética e do ruído, em relação às simples drives externas USB. Refiro-me às unidades NAS, ou Network Attached Storage. Simplificando, estas drives são, na prática, pequenos computadores, mais ou menos poderosos, que servem para partilhar espaço em disco através de uma rede local, ou da Internet. Usando um NAS, pode instalar a drive no escritório, ou qualquer outro ponto da casa e usar na mesma os conteúdos lá gravados no seu Kodi, instalado na sala.

Nos últimos anos os NAS têm evoluído e já são capazes de fazer funcionar um vasto conjunto de serviços de rede como FTP, servidores Web, correio electrónico ou virtualização que permite, por exemplo, a execução remota de programas de produtividade entre outras coisas.

Neste tutorial vamos apenas focar-nos na partilha de dados em rede local usando o protocolo nativo do Windows, ou a sua versão freeware que se chama ‘Samba’.

O que vamos fazer é configurar um dispositivo NAS e partilhar uma pasta onde vamos colocar filmes e depois configurar o Kodi para reconhecer essa pasta e permitir ver esses filmes.

Muitos NAS modernos oferecem a possibilidade de se configurar software específico de servidor de media, que ajuda o software de reprodução a identificar os vários tipos de dados e também fazer a transcodificação de vídeo e áudio, para permitir a sua reprodução em dispositivos que têm limitações na quantidade de tipos de ficheiros compatíveis, como os smartphones e tablets. Vamos ignorar esta funcionalidade de propósito, porque o Kodi é tão versátil que não existe praticamente tipo de ficheiro que ele não consiga ler e se existir, de certeza que há um add-on que o torna compatível. Por isso não vale a pena estar a sobrecarregar o CPU do NAS com esta funcionalidade.

O Kodi também inclui a ligação a serviços online que servem para identificar automaticamente filmes e séries de TV e descarregam imagens e sinopses desses conteúdos. O utilizador só tem de apontar o programa para localização e indicar que tipo de conteúdo que é que está na pasta e o programa faz o resto.

Configurar o NAS

Todos os modelos de dispositivos NAS das várias marcas disponíveis possibilitam a sua configuração em RAID, desde que ofereçam a possibilidade de se instalar mais que um disco. Rapidamente, as configurações de vários discos em RAID permitem agregar várias unidades de disco num único volume, que pode ter, ou não, um sistema de redundância que permite salvaguardar os dados no caso de um dos discos falhar.

Pessoalmente gosto de tirar o máximo possível da capacidade que os discos que estão instalados no NAS disponibilizam, por isso costumo configurá-los em modo RAID 0. Neste modo o sistema junta as capacidades de todos os discos instalados num único volume sem redundância. Por exemplo, se tiver um NAS com duas baias, cada uma com um disco com 3 TB de capacidade, fica com um volume único com cerca de 6 TB (digo ‘cerca’ porque o sistema operativo rouba sempre espaço para ele próprio, para as partições de swap e outros ficheiros). Neste modo, para além de ter a capacidade total dos discos à disposição, também pode tirar o máximo da velocidade do sistema. Isto porque permite leitura e escrita simultâneas.

Mas, como não existe redundância, se um dos discos falhar pode perder todos os dados. Em todos os discos. Este é o principal problema com as configurações RAID 0.

Se quiser ter alguma tolerância a falhas, há que optar por um dos outros modos, como o RAID 1 ou RAID 5.

No RAID 1 um dos discos do conjunto é utilizado para guardar dados de recuperação, para que se algo acontecer, se possa substituir um disco sem perda de dados.

O RAID 5 é um modo que combina a capacidade e velocidade do RAID 0 com a redundância do RAID 1. Neste modo os dados de recuperação são distribuídos por todos os discos e também permite a substituição de um dos discos sem perdas de dados.

Qualquer que seja o modo RAID que quiser usar, há sempre uma regra que tem de ser seguida: todos os discos no sistema têm de ter a mesma capacidade. Se não tiverem o sistema irá nivelar pelo mais pequeno. Por exemplo: se tiver três discos, dois com 1 TB e um com 500GB, se utilizar RAID o volume irá ter 1,5 TB. Se utilizar RAID 1 ou 5 irá ter 1 TB.

Existe ainda um modo de configuração disponibilizado por vários modelos de NAS que se chama JBOD, que quer dizer ‘Just a Bunch of Disks’, que permite juntar vários discos com várias capacidades num único volume. Neste modo as capacidades são somadas. O JBOD também não oferece redundância.

Vejamos então como se faz:

Instalar o NAS

Depois de instalar os discos e ligar o dispositivo à sua rede e à corrente, terá de usar um browser para o configurar. Se não souber como, pode utilizar o utilitário de configuração da marca do NAS, disponível no site do fabricante, que serve para o descobrir na sua rede e também aceder à interface de configuração.

A configuração dos NAS sai um pouco fora do âmbito deste tutorial, por isso não me vou alongar muito. De qualquer forma, os passos seguintes envolvem escolher o seu nome de utilizador e o tipo de RAID que quer usar e ainda actualizar o sistema operativo do dispositivo se estiver disponível uma nova versão. Depois de formado o volume, terá de criar a partilha que quer utilizar para os seus conteúdos.

Estas partilhas podem ser cridas através da mesma interface. No nosso caso usámos um nome simples, como vamos usar um filme, usámos o nome ‘Movies’ para a nossa.

De seguida, ligámos a partilha ao Windows sob a forma de uma drive de rede. Este passo é opcional, no entanto é aconselhável para que seja mais cómodo fazer a gestão dos conteúdos. Para o fazer, clique com o botão direito em cima do ícone da partilha na janela ‘Rede’ no Windows e escolha a opção ‘Ligar drive de rede’. Insira o nome de utilizador e password e depois em OK. Na janela ‘O Meu Computador’ irá aparecer um ícone novo que corresponde à sua partilha no NAS. Para colocar lá ficheiros basta copiá-los como costuma fazer no Windows.

Já no Kodi, como se pode ver não existem ficheiros disponíveis para reprodução. Clique em ‘+Add videos’ neste ecrã para adicionar a pasta partilhada que acabámos de criar.

Na janela seguinte clique em ‘Browse’. Será transportado para uma outra janela em que aparecem todas as drives (neste caso, como o tutorial foi escrito num PC aparecem todas as drives que estão ligadas ao computador).

 

Clique em ‘Add network location…’. Clique no campo do endereço e insira o nome do NAS. Neste caso como não mudámos o nome por defeito, ficou ‘NAS286F4’. Mas, se quiser, pode usar o nome que quiser, só tem de o mudar na interface de configuração do dispositivo acessível através do browser.

De seguida insira o nome da partilha, neste caso é ‘Movies’.

A seguir terá de inserir o nome de utilizador e password que definiu na interface de configuração do NAS para que o Kodi consiga aceder à partilha.

Se toda a informação foi bem inserida, de seguida verá uma janela parecida com esta. Aqui aparece o conteúdo da partilha que está no NAS. Neste caso só existe uma pasta lá dentro. Não clique em nenhuma pasta porque se o fizer estará a usar essa pasta como ‘raiz’ da sua pasta de media. Limite-se a clicar em só OK para adicionar toda a partilha ao seu Kodi.

A seguir escolha o tipo de conteúdo que está na pasta. Isto serve para dizer ao Kodi onde deve procurar a informação sobre os ficheiros que encontrar. Como são filmes escolha a opção ‘Movies’ e clique em ‘OK’.

Este é o último ecrã de configuração da partilha. Aqui vê um sumário das escolhas que fez anteriormente, mas também pode fazer uns ajustes finais. Por exemplo, se organizar os seus conteúdos por pastas clique em ‘Movies are in separate folders that match the movie title’, para que o programa saiba que os nomes das pastas correspondem aos títulos dos filmes para facilitar a busca, pode também ligar a opção ‘Scan recursively’ para dizer ao Kodi para procurar também dentro de todas as pastas que estiverem na partilha.

De volta ao ecrã principal. Aqui está o cartaz e a sinopse do filme que está na partilha. Para o ver basta clicar em cima do nome.

O processo é exactamente o mesmo para séries de TV. Só tem de criar uma partilha para séries e, quando escolhe o tipo de conteúdo, clique em ‘TV Shows’.

Sou director da PCGuia há alguns anos e gosto de tecnologia em todas as suas formas. Estou neste mundo muito por culpa da minha curiosidade quase insaciável e por ser um fã de ficção científica.
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