Tudo sobre NAS Parte 3: Configuração inicial

Por: Pedro Tróia
Tempo de leitura: 19 min

A primeira coisa a ter em mente quando se está a procura de um sistema NAS é que normalmente, eles são vendidos sem discos. Por isso, para ter um sistema completo, terá de comprar o NAS e os discos em separado.

Nem sempre é necessário comprar discos para todos os espaços disponíveis, para se conseguir usar o sistema e, consoante o nível de RAID que escolher, pode acrescentar mais discos posteriormente para ampliar o espaço disponível.

Em muitos casos, a instalação dos discos é muito simples e nem sequer são necessários quaisquer tipos de ferramentas. Alguns modelos têm gavetas na parte da frente onde se instalam os discos. Outros têm de ser abertos com uma chave de fendas (ou uma chave Philips) para se conseguir aceder ao interior para colocar os discos.

Mas, de uma forma, geral, as gavetas para os discos estão feitas de tal maneira, que permitem o encaixe do disco na orientação certa e sem ter de se usar ferramentas. Muitos fabricantes de NAS incluem parafusos para se prenderem os discos às gavetas, se o utilizador quiser fazê-lo. Mesmo não sendo necessário.

Primeiro passo: Instalar os discos e iniciar a configuração

Neste caso, vamos usar um NAS TS-364 da QNAP, que tem espaço para três discos de 3,5 polegadas mais dois SSD M.2 na parte inferior. O processador é um Intel Celeron N5105 com quatro núcleos, que podem chegar aos 2,9 GHz. A memória RAM de série é 4 GB, mas pode ser expandida. Os discos utilizados são três Seagate Ironwolf de 4 TB de capacidade. Este modelo de discos da Seagate é feito de propósito para utilização em sistema NAS. A ligação de rede é de 2,5 Gbits e tem ainda três entradas USB (uma delas frontal) e uma saída HDMI.

Um aspecto a ter em atenção é que cada fabricante oferece funcionalidades diferentes e têm esquemas de configuração e nomenclaturas diferentes para os vários elementos.

Depois de instalar os discos e fechar o NAS, ligue-o à rede e depois ligue-o à corrente.

Após arrancar, o NAS vai receber automaticamente um endereço IP a partir do seu router de Internet. Naturalmente, o utilizador não sabe de antemão o endereço que foi atribuído. Por isso, os fabricantes de NAS disponibilizam uns pequenos programas gratuitos, cuja única função é descobrir o NAS na rede.

No caso dos QNAP, o programa chama-se Qfinder e pode encontrá-lo aqui. Este programa funciona com qualquer dispositivo da QNAP, independentemente do modelo.

Depois de instalado, o programa procura o NAS na rede local e mostra-o na janela, junto com o modelo, o endereço IP que lhe foi atribuído e o endereço MAC (o identificador único da placa de rede).

A partir daqui o utilizador tem duas hipóteses: abre uma janela do browser e insere o endereço IP no campo dos endereços do browser para aceder ao software do NAS. Ou, clica em cima do nome do NAS e depois clica em ‘Entrar’ no Qfinder.

No nosso caso, escolhemos a segundo hipótese e aparece uma janela que indica que o servidor ainda não foi inicializado. Ou seja, o sistema operativo ainda não foi instalado e configurado. Clique em ‘Sim’ para dar início ao processo.

A primeira coisa que o programa de configuração faz, é verificar se está disponível uma nova versão do sistema operativo. Se não houver novidades, clique em ‘Next’.

De seguida, o sistema vai pedir-lhe um nome de utilizador e uma password. No nosso caso usámos ‘Administrator’, mas pode usar o nome que quiser. Não se esqueça que a conta que está a criar é a conta de administração que tem todo o poder sobre os recursos e configurações do NAS, por isso use uma password o mais segura possível.

No passo seguinte, o utilizador terá de definir o fuso horário do local em que está o NAS.

A seguir, o utilizador tem de definir a forma como o NAS vai obter o endereço IP. Aqui o utilizador decide se é router que atribui o endereço automaticamente ou se o NAS usa um endereço IP definido pelo utilizador. Neste caso, o endereço IP vai ter de estar no conjunto de endereços da rede local para que fique disponível na rede. Este é o último passo. De seguida, o sistema mostra um sumário da configuração.

Quando clicar em ‘Next’, aparece um aviso a indicar que os discos vão ser apagados.

O processo inicia-se e vai demorar um bocado. Por isso, esta é a altura de ir buscar um café.

No final, aparece um botão que permite aceder à interface de gestão do NAS. Clique nesse botão.

O ecrã seguinte tem os campos para o login para a password. Insira as que definiu anteriormente.

A interface é semelhante à de um qualquer sistema operativo. Depois de uma pequena introdução a cada uma das funcionalidades. Clique em ‘Painel de Controlo’.

Assim que clicar no ícone, aparece um assistente que mostra as formas como se pode configurar os discos para começar a usar o NAS.

Depois, passa para o assistente de configuração propriamente dito. Ao clicar em ‘Avançar’, no primeiro ecrã, terá de escolher os discos que farão parte do conjunto a ser usado. Como são apenas três, no menu ‘Tipo de RAID’ só tem a opção ‘JBOD’, RAID 0 (sem redundância) e RAID 5 (com redundância). No nosso caso, escolhemos RAID 5. Clique em ‘Avançar’.

No passo seguinte é que começam as diferenças específicas do software da QNAP para os outros. Por isso, é necessário entender alguns dos conceitos:

Pool de armazenamento. É o conjunto dos discos alocados para fornecer espaço aos vários volumes que podem ser criados para guardar dados.

‘Volume fino’ (Thin Volume) e ‘Volume grosso’ (Thick Volume). Trata-se de duas formas de alocar espaço no disco para utilização. Também são conhecidos como ‘Volumes flexíveis’. No caso dos ‘Volumes Finos’, o utilizador define um espaço máximo que esse volume vai poder ocupar no sistema. Esse espaço só é ocupado quando se escrevem ficheiros para esse volume. Isto permite que ocupe dinamicamente o espaço disponível. Por outro lado, quando se usam ‘Volumes grossos’, o espaço para o volume é alocado inicialmente, especificamente para esse volume e mantém-se inalterado mesmo que o volume esteja vazio, da mesma forma que acontece quando se particiona um disco no Windows ou macOS.

Volume estático. Esta é a forma tradicional e mais simples para a criação de volumes (semelhante à usada noutros sistemas NAS). O volume usa toda a capacidade disponível no sistema. Neste caso, não se pode usar a funcionalidade ‘Snapshots’ para manter um registo das alterações feitas aos ficheiros, porque todo o espaço está alocado ao volume.

Snapshots (Instantâneos). Os Snapshots funcionam de uma forma semelhante à funcionalidade Time Machine do macOS. Mantêm um registo das alterações que são feitas aos ficheiros (alterações, apagamento, etc), para que seja possível recuperá-los. Na configuração inicial do sistema, é sugerido que guarde um espaço no disco para estes instantâneos.

Para facilitar, vamos criar primeiro um volume estático.

Segundo passo: Criar um volume

Depois de o RAID acabar de ser criado, está na hora de criar o volume que servirá de suporte para guardar os ficheiros. Na prática, isto funciona de uma forma muito semelhante ao particionamento e formatação de um disco rígido tradicional.

No ‘Painel de Controlo’ do NAS, clique em ‘Armazenamento e instantâneos’. Aparece uma janela em branco a informar que não estão disponíveis volumes de armazenamento.

Clique em ‘Novo volume’. Abre-se uma nova janela do Assistente de criação de volume.

Clique em ‘Alterar Tipo’. Abre-se outra janela que permite a escolha entre ‘Volume grosso’, ‘Volume fino’ e ‘Volume estático’. Clique neste último e depois clique em ‘OK’. Volta à janela anterior. Clique em ‘Avançar’.

No passo seguinte, pode escolher em que discos serão usados no volume. Escolha-os todos, clicando nas caixas à esquerda.

Depois, clique em ‘Avançar’.

Na janela seguinte, pode escolher o nome do volume e os Bytes por nó (Bytes per inode). Para uma utilização geral, não vale a pena mexer. Clique em ‘Avançar’.

A última janela do assistente, mostra um resumo de todas as configurações que foram escolhidas nos passos anteriores. Se estiver satisfeito, clique em ‘Finalizar’.

Aparece um aviso que indica que todos os dados vão ser apagados, clique em ‘OK’.

O processo de criação do volume inicia. O sistema vai criar automaticamente as pastas padrão do sistema operativo e da conta de administração do sistema.

O processo de sincronia demora um pouco, mas o sistema está pronto a usar, mesmo durante o decorrer deste processo.

Terceiro passo: Criação de utilizadores

O objectivo dos sistemas NAS é a partilha de conteúdos e aplicações entre vários utilizadores que estejam numa rede local, ou através da Internet.

Para tal, esses utilizadores têm de ser “criados” no sistema. Essa criação envolve a definição de credenciais de acesso (nome de utilizador e password) e os privilégios de acesso.

Vejamos como se cria um utilizador.

No painel de controlo, clique em ‘Utilizadores’ na secção ‘Privilégio’.

Na janela que surge a seguir, é mostrada uma lista de todos os utilizadores do sistema. Por defeito, o sistema cria dois utilizadores assim que é configurado pela primeira vez: o utilizador de administração (definido nos primeiros passos da configuração) e o utilizador ‘administrator’ que, apesar de existir, está desligado por defeito por razões de segurança.

Se reparar, na coluna mais à direita, estão uma série de pequenos ícones que servem para alterar rapidamente os privilégios desse utilizador. Se passar o rato por cima de um destes ícones, aparece uma tooltip que explica o que é possível fazer.

Clique em ‘Criar’ e depois, clique em ‘Criar utilizador’. Em alternativa, pode clicar em ‘Criar múltiplos utilizadores’ para a criar um conjunto de utilizadores de uma só vez. Neste caso, vamos clicar em ‘Criar utilizador’.

Aparece uma nova janela, mais uma vez com alguns campos. Os principais são, obviamente, o nome de utilizador e a palavra-passe. Insira o nome e a password. O sistema faz um teste à complexidade da password para lhe mostrar o nível de segurança. Convém que a o resultado seja ‘Bom’ ou ‘Forte’.

Pode também inserir o número de telefone e o endereço de email do utilizador, mas essa informação pode ser vista pelos outros utilizadores.

À direita definem-se os privilégios do utilizador que está a criar.

O primeiro é a pertença a um grupo de utilizadores. Os grupos de utilizadores têm como fim a atribuição automática de privilégios. Basta definir o grupo, os respectivos privilégios e todos os utilizadores que pertencerem a esse grupo ficam com o mesmo nível de acesso aos recursos do sistema.

Se clicar em ‘Editar’ verá que estão disponíveis dois grupos: ‘Everyone’ e ‘Administrators’. O primeiro não tem quaisquer privilégios e o segundo tem todos os privilégios que é possível ter no sistema. Por defeito, todos os utilizadores são criados no grupo ‘Everyone’.

Abaixo está a definição de acesso às pastas. Neste momento, apenas está disponível a pasta ‘Public’ e a definição por defeito é ‘Apenas leitura’. Isto indica que o utilizador pode ver o que está na pasta, mas não pode alterar ou apagar ficheiros que lá estejam (mas pode copiá-los para o seu computador).

Se clicar em ‘Editar’, pode alterar os privilégios do utilizador para a pasta. Estão disponíveis três opções:

‘RO’ (Read Only), que apenas deixa ler o conteúdo da pasta

‘RW’ (Read Write), que deixa ler e escrever dados para a pasta

‘Deny’, nega ao utilizador qualquer acesso à pasta

Para alterar os privilégios do novo utilizador, basta colocar ou remover o visto das caixas.

A última secção do lado direito permite definir a que serviços e aplicações do NAS o utilizador tem acesso. O processo é semelhante ao anterior, só tem de escolher a que aplicações e serviços o utilizador tem acesso. Isto é feito através da colocação ou remoção do visto em cada uma das caixas.

Quando estiver satisfeito, clique em ‘Criar’ e o utilizador será criado. O processo de criação de um utilizador também cria uma pasta pessoal que apenas está disponível ao administrador do sistema e ao próprio utilizador.

Quarto passo: Criar uma pasta partilhada

No quarto passo, vamos criar uma pasta partilhada onde pode colocar ficheiros que depois serão partilhados por todos os utilizadores com acesso ao sistema que criámos na secção anterior.

Para criar uma pasta partilhada no NAS, faça o seguinte.

No painel de controlo, clique em ‘Pastas partilhadas’ na secção ‘Privilégio’.

Abre-se uma nova janela que mostra todas as pastas partilhadas que estão disponíveis no sistema. Neste momento apenas existe uma chamada ‘Public’ que, como o nome indica, está disponível a todos os utilizadores que tenham acesso ao NAS.

Clique em ‘Criar’ e depois clique em ‘Pasta partilhada’.

Surge outra janela, com uma série de campos. O primeiro (e mais importante) é onde se insere o nome da pasta. Pode também inserir um comentário.

A seguir, se estiver disponível mais do que um volume no NAS, pode escolher a localização da pasta.

Abaixo está a secção ‘Codificação’. Aqui pode definir uma password específica para esta pasta. Se definir uma destas passwords, mesmo que a pasta esteja visível a todos os utilizadores do sistema, terá de ser inserida a password para ver, ou alterar, o conteúdo.

Insira o nome da pasta e clique em ‘Avançar’.

Na janela seguinte, definem-se os privilégios de acesso à pasta. As opções de acesso disponíveis são as mesmas que durante a criação do utilizador: RO. RW e Deny.

Defina os privilégios de acesso para todos os utilizadores e depois clique em ‘Avançar’.

No último passo da criação de uma pasta partilhada, o utilizador tem algumas opções. A maioria pode ficar como estão, mas convém ficar a saber o que as mais importantes fazem.

Direito de acesso de convidado. Permite negar o acesso à pasta a todos os que não tiverem um nome de utilizador e uma password. Isto é particularmente útil se estiver a usar um servidor de FTP que não obrigue à inserção de credenciais para aceder.

Ocultar unidade de rede. Esta pasta fica escondida no Explorador de Ficheiros do Windows e assim inacessível.

Bloquear ficheiros. Isto impede que um ficheiro que esteja aberto num computador seja alterado simultaneamente noutro.

Habilitar Lixeira de rede. Esta funcionalidade funciona como a Reciclagem ou o Lixo do macOS, permitindo a recuperação dos ficheiros que foram apagados.

Definir esta pasta como pasta da cópia de segurança do Time Machine. Esta opção é para redes com Macintosh e permite que as cópias de segurança automáticas do Mac sejam feitas para esta pasta.

Para criar a pasta partilhada, basta clicar em ‘Finalizar’. A visualização volta à janela principal e a lista já contém a nova pasta. Note que a última coluna à direita também tem botões para editar rapidamente as definições da pasta, tal como na janela de utilizadores.


Na parte 4 do nosso guia sobre NAS, vamos mostrar como se consegue aceder a uma pasta partilhada no disco através de um PC Windows ou Mac.

Sou director da PCGuia há alguns anos e gosto de tecnologia em todas as suas formas. Estou neste mundo muito por culpa da minha curiosidade quase insaciável e por ser um fã de ficção científica.
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