A ferramenta de alerta errada

Por: André Gonçalves
Tempo de leitura: 4 min
Vyacheslav Shatskiy/Unsplash

Muitas vezes, conseguir alertar rapidamente toda a população de uma determinada região pode ser uma necessidade vital para salvar as suas vidas. Mas, em Portugal, continuam os estudos na optimização de uma tecnologia implementada, que já se provou ineficaz para esse fim.

Em Portugal a população é alertada para uma emergência através de LB-SMS (SMS baseado em localização), ou seja, uma normal mensagem de texto enviada aos dispositivos ligados a uma rede móvel, numa determinada região em risco. Para que tal aconteça, cada operador de rede tem de manter um registo permanente de todos os dispositivos e das suas passagens entre antenas de fornecimento de serviço (o que acarreta, por si só, um risco para a privacidade dos utilizadores).

Mas o maior problema deste método é que, no processo de alerta, o operador terá de fazer um envio de uma SMS distinta para cada um dos dispositivos que respondam como presentemente ligados a uma antena. Isto significa que, dispositivos sem contrato activo, em roaming ou com falha de rede do operador nativo, podem não receber o alerta. Como são SMS de envio individual, também não podem ser entregues todas ao mesmo tempo e, quanto maior a densidade de utilizadores numa região, mais tempo demorará o processo (que pode ser de várias horas). Um LB-SMS tem a recepção assinalada com o mesmo toque de uma mensagem normal – se o dispositivo estiver em silêncio, o aviso, provavelmente, passará despercebido. Por último, normalmente, não existe confirmação de entrega, pois a mesma implicaria o dobro de sobrecarga da rede num momento particularmente crítico.

O mais incrível é que a alternativa correcta para este tipo de alertas (o Cell Broadcast) não implica qualquer tipo de alteração, tanto nas antenas de transmissão, como na esmagadora maioria dos dispositivos terminais; faz parte dos standards de rede desde do 2G; e espoleta um alerta automático, simultâneo e quase instantâneo para todos os dispositivos ligados a uma determinada antena (mesmo para os que que estejam sem cobertura de rede nativa ou em modo de chamada de emergência). Este alerta é acompanhado de um som distintivo em volume máximo, mesmo que o equipamento esteja em modo de silêncio.

O Cell Broadcast é dirigido às antenas e não aos dispositivos a elas ligados, funcionando em modo de ‘uma para todos’ e em notificação push, o que assegura a privacidade dos utilizadores. Além disso, em alguns países, esta tecnologia de alerta já foi estendida a outros tipos de transmissão de media, como televisão, rádio digitais e até mesmo a painéis digitais de comunicação pública e comercial.

A adoção do Cell Broadcast já foi feita pela maioria dos países desenvolvidos e a própria União Europa já definiu o standard EU-Alert baseado nesta tecnologia. Não entendo o esforço inglório que continuamos a fazer por melhorar numa tecnologia condenada à obsolescência.

 

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