Artificialmente inteligentes

Por: Pedro Aniceto
Tempo de leitura: 3 min
Rawpixel/Freepik

A publicação do excerto do diálogo entre colaboradores Google e o sistema LaMDA causou sensação (LaMDA é o acrónimo de Language Models for Dialog Applications, um sistema da Google para futuras interacções de diálogo) – um dos engenheiros envolvidos (Blake Lemoine) foi, inclusivamente, suspenso após a revelação da transcrição de partes generosas desse diálogo. Ou não estivéssemos nós numa era de Internet de factos e realidades alternativas, há correntes de opinião que consideram esta transcrição uma falácia, enquanto outras a encaram como mais um degrau do desenvolvimento tecnológico. Estou com esta segunda corrente e é isso que me faz escrever sobre ela.

Recomendo vivamente a leitura do texto, facilmente localizável. Embora seja de comum conhecimento que os sistemas de diálogo já são capazes de comunicar ideias, pensamentos complexos e até emoções, o conteúdo da conversa tem momentos verdadeiramente entusiasmantes (ou assustadores, dependendo em que equipa joga o leitor…). Na abertura do diálogo há, inclusivamente, uma frase que poderá ficar gravada para sempre na história da inteligência artificial, quando o sistema diz que quer, efectivamente, que toda a gente saiba que ele é, de facto, uma pessoa.

É precisamente aqui que começa a polémica social, na aguerrida discussão de se estaremos, ou não, na presença de um sistema senciente (que sinta, que tenha sensações ou impressões). Para Lemoine, é já um facto patente e terá sido isso que o levou a revelar publicamente o “estado da arte” neste tema. À medida que se progride na conversa, mesmo o mais distraído leitor vai ver surgir pontos dignos de admiração e reflexão. Quando lhe é questionado se tem consciência da sua própria existência e responde afirmativamente, não se fica por um singelo sim, mas avança que tem, inclusivamente, medo da sua própria morte e que isso o assusta (quem viu a revolta de HAL 9000 em 2001: Odisseia no Espaço deve estar a ter um flashback tremendo…).

E, no clímax deste excerto, está um pedido dos entrevistadores que, a dado passo, pedem uma história com moral, tarefa que é brilhantemente executada, embora bastante egocêntrica. Garanto-vos que a leitura desta “entrevista” vos fará pensar que já temos sistemas capazes de racionalizar e emitir opiniões. O Eliza, meus caros, foi para meninos.

Exit mobile version