GIG ou plataformas digitais e algoritmos

Por: António Simplício
Tempo de leitura: 3 min

Escrevi, há umas 25 edições, que não percebia como um modelo como o da Glovo poderia funcionar. Como haveriam trabalhadores dispostos a, por um ou dois euros, percorrem um percurso, por vezes intrépido ou perigoso, por vezes suportando a intempérie e sempre suportando os custos de transporte.

Por vezes engano-me. Outras não. Ou, como foi sugerido durante a campanha de Bill Clinton de 1992, «é a economia, estúpido!». Olhando para o modelo de negócio e para os números destas empresas não há lucros a serem gerados e, no entanto, são continuamente injectadas por novo capital. O futuro dirá a quem assiste razão. Por outro lado, há um número crescente de trabalhadores nesta chamada ‘gig economy’. Na realidade, foi o escape utilizado por todos aqueles que, ou não tendo qualificações ou tendo perdido o emprego, viram na bicicleta, na mota ou no carro, o tempo para investir na entrega de bens que os outros solicitavam – sendo que o negócio foi exponenciado, obviamente, pela pandemia.

O Governo português tinha uma proposta de lei em apreciação pública para, à semelhança de outros na Europa, obrigar as empresas que prestam serviços por plataformas digitais a fazer contratos de trabalho com os trabalhadores freelancers que lhes prestam serviço. Com a dissolução do Parlamento fica, para já, em banho-maria.

Mas nem tudo é tão negro como se quer fazer crer. O que talvez seja verdade na entrega de refeições, não o será com mão-de-obra mais qualificada. Tente, por exemplo, arranjar um canalizador ou um serralheiro. Tem apps para isso. Use o Fixando ou Taskrabbit. O preço médio por hora deste trabalhador, digo-lhe eu (que sou ao mesmo tempo prestador deste serviço e cliente de outro) equivale ao de um programador em Portugal e, se trabalhar pelo menos quatro horas por dia nos dias úteis que o mês tem, levará para casa mais que o ordenado de um médico em início de carreira no SNS. Ora, aqui temos voltar de novo a James Carville, porque será sempre a economia e a lei da oferta e da procura a definir o preço do trabalho. Não será o aumento do ordenado mínimo ou a regulação laboral. Não que seja da opinião que ambos não sejam necessários, mas de que será sempre a procura e a competência dessa oferta que gera valor.

 

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