Miguel Martín, Bang & Olufsen: «O que fazemos na Dinamarca não se pode fazer na China, é inimitável»

Por: Ricardo Durand
Tempo de leitura: 8 min
©PCGuia | Miguel Martin

A Bang & Olufsen (B&O) é uma daquelas marcas cujos produtos denunciam de imediato o ADN. Com uma matriz nórdica vincada, têm sido largamente influenciados pela escola Bauhaus – minimalismo, simplicidade e funcionalidade, – na senda das filosofias do designer Dieter Rams ou do arquitecto Ludwig Mies van der Rohe.

Miguel Martin, training manager EMEA Retail da B&O, falou com a PCGuia, minutos antes da inauguração da nova loja no Porto, sobre a inspiração que traça as linhas dos produtos desde os anos cinquenta e que faz com a maca que crie produtos originais e de qualidade: «O que fazemos na Dinamarca não se pode fazer na China, é inimitável». Apesar de haver várias marcas que tentam copiar a B&O, Miguel Martin garante que isso não é uma coisa que lhes tira o sono: «É um elogio, não nos preocupa muito».

O responsável assume ainda que o público tem uma percepção de que a B&O é uma marca premium, mas há margem para comunicar outro tipo de objectivos. Os lançamentos relativamente recentes de produtos mais acessíveis, a partir dos duzentos euros (as colunas portáteis Beosound Explore e A1), pode fazer com que esta empresa comece a fazer passar a mensagem de que nem tudo é podre de caro no Reino da Dinamarca.

O design nórdico é muitas vezes ligado a produtos mais premium. Para a Bang & Olufsen, qual é a relação entre estas duas realidades?
O design é um dos pontos essenciais para a Bang & Olufsen, é uma das preocupações principais na forma como comunicamos. Somos muito tecnológicos e temos a autoria de várias patentes que são usadas por outras marcas, inclusive profissionais; mas o design é o mais característico da B&O.

Todos os nossos produtos são desenhados por designers freelancers dinamarqueses, alemães ou ingleses, mas é verdade que o aspecto é muito escandinavo. Contudo, gostamos mais de o definir como sendo influenciado pela Bauhaus, pela simplicidade desta escola

De resto, como a Apple. Jony Ive foi muito inspirado por Dieter Rams e pelos produtos que desenhou para a Braun… a sua escola Ulm era uma extensão da Bauhaus.
Exactamente. Acho que a B&O e a Apple são marcas muito “irmãs”, com muitos pontos em comum. A diferença é que nós somos mais antigos e temos mais experiência (risos) – estamos quase a fazer cem anos.

Mas quando a B&O foi fundada, o design não era uma prioridade. Foram as influências da Bauhaus e o movimento minimalista que marcaram a mudança?
O design escandinavo e profissional não apareceu logo ao início, mas apenas nos anos cinquenta, de forma muito definida, com influência dos anos trinta, da Bauhaus e do conceito ‘less is more’ [usada pelo arquitecto Ludwig Mies van der Rohe, que definiu o movimento minimalista e privilegiou a funcionalidade].

Todos os nossos produtos dão primazia à funcionalidade. Não dizemos que somos a Bauhaus, mas assumimos que somos muito influenciados por esta corrente e pelo minimalismo, porque damos total prioridade à funcionalidade, qualidade e simplicidade.

E também são muito inspirados pela natureza escandinava, é um dos argumentos que usam nos comunicados sobre os vossos produtos.
Absolutamente. Um dos designers mais emblemáticos dos anos noventa, o inglês David Lewis, que viveu quase toda a vida na Dinamarca, dizia que as fontes de inspiração eram três: a natureza, a tecnologia e as pessoas. Foi ele que desenhou as nossas aparelhagens que podiam levar seis CD [BeoSound 9000] e as que se abriam quando aproximávamos a mão [BeouSound 3000 – na foto, em baixo].

©Bukowskis | A BeoSound 3000 foi lançada em 2000 e tinha uma app para PC a partir da qual se podiam fazer streaming de música.

David Lewis foi o “mestre” de um dos designers que criou muitos dos produtos que hoje temos no nosso portfólio, Torsten Valeur [desenharam juntos a coluna de som BeoLab 17]. Isto é belo, temos uma aproximação ao conceito “medieval” de o mestre passar conhecimento ao discípulo.

Tudo isso de que fala dá-vos a validação para que sejam considerados uma marca premium, com produtos cujos preços são muito elevados e inacessíveis ao público em geral. Estão confortáveis com esta percepção que há sobre a Bang & Olufsen?
Somos definidos como uma marca premium, mas a nossa intenção não é ser apenas isso: é ser uma marca de lifestyle. Mas nem todos os nossos produtos custam milhares euros, temos opções a partir de duzentos euros.

Está a falar das BeoSound Explore e A1, os produtos mais acessíveis que vendem actualmente e que são relativamente recentes. É uma estratégia a manter, querem ter este tipo de produtos no vosso portfólio?
A resposta é ‘sim’. Queremos continuar com esta gama de produtos com um preço mais baixo, mas sem renunciar à qualidade. Todos têm de ter as características principais da B&O: feitos por designers externos e uso de materiais de alta gama. A Explore é feita de um bloco sólido de alumínio anodizado, segue o mesmo conceito de outros produtos nossos muito mais caros e complexos.

©PCGuia | A gama ‘on the go’ da Bang & Olufsen é uma aposta a manter – tem os produtos mais acessíveis da marca dinamarquesa.

A nossa intenção é manter três categorias de produtos na B&O – os mais pequenos, de utilização “nómada”, a gama ‘on the go’; os domésticos com flexibilidade relativa de movimentos, a ‘flexible living’; e a categoria ‘stage’, produtos fixos para experiências imersivas e intensas, como as nossas grandes TV e colunas.

Sentem que há muitas marcas a quererem copiar o vosso design e conceito. É uma coisa que preocupa a B&O?
Não quero ser arrogante, mas a preocupação é relativa. É óbvio que, para casos muito flagrantes e agressivos, recorremos aos nossos advogados e há situações destas actualmente a serem seguidas.

Mas em muitas ocasiões não é preciso dar grande atenção, porque a partir do momento em que vemos a cópia e o original, percebemos qual é o da B&O. Há marcas grandes que nos copiam, é verdade, mas ficamos orgulhosos que isso aconteça: é um elogio que nos fazem.

Por: Ricardo Durand Editor
Seguir:
Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo email rdurand@pcguia.fidemo.pt.
Exit mobile version