A teoria do caos I

Por: André Gonçalves
Tempo de leitura: 3 min
Starline/Freepik

Num mundo gerido por análises de dados e algoritmos preditivos, é cada vez mais difícil aceitar sermos surpreendidos por resultados distintos, para situações matematicamente similares. Pois, na realidade, apenas a simplificação e generalização de processos analíticos nos permitem identificar as relações causa-efeito entre elementos sócio-naturais anteriormente desconexos. Por outro lado, após essa identificação, os humanos, como espécie, ganham grande apego às fórmulas relacionais que conseguem e que comprovam um número substancial de situações. Vivemos e evoluímos com base nela e, em muitos casos confiamos na validade dessas reacções de uma forma alargada, muito antes de existir uma compreensão completa do porquê da relação. Criamos padrões e reconhecemos a sua existência nos mais diversos locais, extrapolamos resultados e com isso muitas vezes falhamos.

Isto acontece porque entre elementos naturais é impossível dominar na sua plenitude as variáveis que podem afetar uma determinada causa efeito. O apreço pela capacidade de catalogar fenómenos sócio-naturais através de ferramentas matemáticas, leva-nos a desenvolver processos estatísticos que, em vez de nos darem uma resposta de verdadeiro ou falso (ligado ou desligado), nos apresentam uma probabilidade. É sobre essas respostas com fortes possibilidades, arredondadas à milésima, que aceitamos em converter em certezas para que nós e principalmente as nossas máquinas possam trabalhar.

Muitas das vezes quando analisamos um problema que à partida pode assumir um comportamento demasiado complexo, criamos adversidade a trabalhar com eles pela incapacidade que temos de antever o seu resultado. No tradicional movimento de um duplo pêndulo, podemos dizer que, à partida, o seu comprimento é caótico, porque está para lá da nossa capacidade analítica de todas as variáveis possíveis. Ou seja, mesmo desconsiderando todas as variáveis de baixa influência no processo de movimentação dos pêndulos, e fixando as suas dimensões e forças, podemos saber quais serão muitos dos percursos que os pêndulos tomarão. Contudo, não temos certeza de qual será o percurso tomando numa determinada experiência, mas, mesmo assim, é possível balizar os resultados numa determinada área de segurança.

Da mesma forma, quando atiramos uma moeda ao ar, aceitamos que vai cair ao chão com a cara ou com a coroa virada para cima. Mas os verdadeiros problemas surgem quando esta aterra de pé ou quando nem sequer chega a tocar o chão: são os casos que nos deixam com uma resposta completamente fora dos padrões antecipados. Esta é uma incrível incógnita indecifrável que fascina alguns humanos e é uma prova da intervenção divina para outros, mas que para uma máquina é apenas mais um erro 404 ou, no pior dos casos, uma divisão por 0 provocada pela incapacidade de quem a programou.

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Se não pensares nisso, alguém vai fazer-lo por ti.
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