O que é que o rover Perseverance da NASA levou para Marte?

Por: Pedro Tróia
Tempo de leitura: 8 min

No dia 30 de Julho de 2020, o rover Perseverance foi lançado a partir do Cabo Canaveral a bordo de um foguetão Atlas V. Chegou à cratera Jezero em Marte (que se pensa que tenha sido um lago há 3,5 mil milhões de anos), sete meses depois, a 18 de Fevereiro de 2021, tendo conseguido pousar em segurança. Este é só o primeiro passo de uma missão que demorará, pelo menos, 1 ano marciano, ou seja 687 dias terrestres. 

O Perseverance é muito semelhante ao Curiosity, que está em Marte desde 2012. De facto, os dois rovers partilham 85% do hardware, o que ofereceu duas grandes vantagens à NASA: reduziu o custo do fabrico e reduziu o risco de algo correr mal, porque a tecnologia já tinha sido testada com sucesso na missão anterior. No entanto, a missão principal do Perseverance vai muito além da do seu antecessor. E, para isso foi preciso enviar novos instrumentos científicos.

O que está dentro do Perseverance?

A missão principal da Perseverance, é procurar indícios de que tenha havido vida em Marte e recolher amostras, que serão mais tarde enviadas para a Terra. Para o conseguir fazer, o rover tem sete instrumentos que foram seleccionados pela NASA a partir das 58 propostas que recebeu:

 

Mars Oxygen In-Situ Resource Utilization Experiment (MOXIE)

O Perseverance levou para a Marte um instrumento chamado Mars Oxygen In-Situ Resource Utilization Experiment (MOXIE), que tem como objectivo gerar oxigénio (O2) a partir da atmosfera marciana, que é composta principalmente por dióxido de carbono (CO2). Esta experiência tem como objectivo provar que é possível gerar oxigénio em Marte, o que poderá ajudar em futuras missões tripuladas.

Este instrumento, pesa cerca de 17 quilos e “funciona como uma árvore”, recolhe dióxido de carbono e exala oxigénio. A atmosfera de Marte tem apenas 0,13% de oxigénio, a da Terra tem 21%, por isso, a produção de oxigénio em Marte é um aspecto crucial para as futuras missões tripuladas ao planeta vermelho.

O MOXIE também pode ser usado em experiências de criação de combustível que poderá ser usado nas viagens de retorno à Terra de futuras missões. A ideia é que o combustível para a viagem de retorno seja produzido em Marte para que não seja necessário transportá-lo a partir da Terra.

The Radar Imager for Mars’ Subsurface Experiment (RIMFAX)

O Radar Imager for Mars’ Subsurface Experiment (RIMFAX), consegue ver por debaixo da superfície de Marte esteja ela coberta de gelo, areia ou pedra através de um radar que tem um alcance de 9 metros. Este radar é muito semelhante aos utilizados na Terra para fazer prospecção subterrânea.

Planetary Instrument for X-ray Lithochemistry (PIXL)

O Planetary Instrument for X-ray Lithochemistry (PIXL) está montado num braço articulado e é um espectrómetro de raios-x que pode medir a composição de materiais do tamanho de um grão de sal. O objectivo é tentar encontrar sinais de vida microbiana no passado de Marte.

No mesmo braço articulado está o Scanning Habitable Environments with Raman & Luminescence for Organics & Chemicals (SHERLOC), que procurará sinais da presença de água e de vida microbiana passadas através de uma laser de ultravioletas.

Mastcam-Z

Este instrumente serve essencialmente para tirar fotografias panorâmicas e 3D, bem como de captar vídeo em alta definição da superfície e da atmosfera. Segundo a NASA, esta câmara consegue ver coisas tão pequenas como moscas a uma distância equivalente à de um campo de futebol. Esta câmara está montada num mastro no cimo do rover e pode ajudar os cientistas a escolherem que rochas perfurar e recolher para depois serem enviadas para a Terra no futuro.

Este instrumento alberga ainda a SuperCam, que serve para identificar a composição de perdas e do solo, incluindo a composição atómica e molecular.

Mars Environmental Dynamics Analyzer (MEDA)

O Mars Environmental Dynamics Analyzer (MEDA), servirá para medir  a meteorologia e monitorizar a poeira suspensa na atmosfera de Marte através de um conjunto de sensores montados no Perseverance. Este instrumento também medirá a radiação, que pode alterar quaisquer traços de vida passada na rochas de Marte.

Helicóptero

O Perseverance também transporta um drone, chamado Ingenuity, que pode ser usado em missões de exploração e para perceber como é que um veículo voador se comporta na fina atmosfera de Marte. Segundo a NASA, este drone não faz parte oficial da missão do rover, mas servirá para ajudar a tomada de decisões acerca do envio de veículos voadores em futuras missões a Marte.

Computador

O computador que está dentro do rover Perseverance tem um processador baseado na arquitectura PowerPC 750 (a mesma usada pela Apple em vários computadores Macintosh antes de ter adoptado os processadores Intel em 2006). O processador funciona a 200 Mhz.

A acompanhar o processador estão 256 MB de memória RAM e 256 Kb de EEPROM (Electrically Erasable Programmable Read-Only Memory) para o firmware do rover. Por fim, estão presentes 2 GB de memória flash para o armazenamento de dados.

Todos os componentes estão blindados contra radiação, visto que o fraco campo magnético Marte não os conseguiria proteger radiação cósmica.

Energia

Pode dizer-se que o Perseverance utiliza energia atómica, mas não sob a forma a que estamos habituados a ver nos reactores de fissão que são usados na Terra. Este sistema produz energia a partir do calor emitido por uma pilha de plutónio. O sistema chama-se “Multi-Mission Radioisotope Thermoelectric Generator” ou MMRTG. O MMRTG, converte o calor produzido pelo decaimento radioactivo natural do plutónio em electricidade, através de termopares, que é usada para carregar as duas baterias de iões de lítio principais do rover. O calor produzido pelo MMRTG também é utilizado para manter os instrumentos e sistemas do rover à temperatura de funcionamento correcta. À partida da Terra o MMRTG é capaz de produzir 110 watts de energia eléctica.

O MMRTG é capaz de fornecer energia ao rover durante 14 anos, o que pode aumentar bastante o tempo de vida do rover para além do prazo estabelecido para a missão.

Sou director da PCGuia há alguns anos e gosto de tecnologia em todas as suas formas. Estou neste mundo muito por culpa da minha curiosidade quase insaciável e por ser um fã de ficção científica.
Exit mobile version