A aplicação de tradução automática Google Translator (Tradutor Google) foi usada de forma indevida pelos inspectores do SEF para interpelar Ihor Homenyuk (o cidadão ucraniano que morreu em Março de 2020 no Aeroporto de Lisboa) sobre a sua viagem para Portugal.
Ihor Homenyuk tinha chegado a Lisboa via Istambul como turista, mas na área de controlo do aeroporto foi impedido de entrar no País. Os inspectores do SEF (que agora estão a ser julgados por homicídio qualificado) concluíram que o ucraniano vinha com intenções de trabalhar em Portugal.
Segundo o jornal Público (artigo de acesso condicionado a assinantes), Augusto Costa, o inspector do SEF que parou Ihor, disse em julgamento (numa sessão que decorreu esta Terça-Feira) que usou a aplicação Tradutor da Google para perceber as justificações do ucraniano.
O Público escreve ainda que, apesar de na altura de chegada de Ihor Homenyuka Lisboa haver uma «linha de tradutores disponível» para os inspectores do SEF recorrerem neste tipo de casos, foi usada a app da Google na «primeira conversa entre Augusto Costa e Ihor».
Traktor – a palavra da discórdia
Augusto Costa recorreu à app como «primeiro despiste» e «recorda-se de Ihor ter usado a expressão que entendeu como soando a ‘traktor’», escreve o Público. Desta forma, o inspector do SEF percebeu que Ihor tinha outro objectivo que não o turismo: «Inferi que vinha trabalhar».
Se escrevermos a palavra ‘traktor’ no Tradutor do Google, de ucraniano para português, a app diz-nos que significa ‘trator’, ou seja, soa e significa o mesmo. O inspector do SEF poderá ter concluído que Ihor Homenyuk viria para Portugal trabalhar com tractores. A palavra que a mesma app nos dá para ‘trabalho é ‘robota’; ‘trabalhar’ em ucraniano é, segundo o Google, ‘pratsyuvaty’.
IGAI condena uso do Tradutor Google
Sabe-se ainda que a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) condenou o uso do Tradutor da Google no relatório onde sugere processos disciplinares para os doze inspectores do SEF envolvidos.
De acordo com o Público, este relatório critica o uso do Tradutor da Google, sublinhando que não devem ser usadas «soluções de recurso pelos inspectores na abordagem aos estrangeiros que não falem português ou outra língua estrangeira corrente» e condena os mesmos por terem «desvalorizado este facto».
A PCGuia pediu uma reacção da Google a este tema e assim que a tivermos, actualizamos este artigo.