Vídeos antivirais

Por: Alexandre Gamela
Tempo de leitura: 3 min

Existem vídeos que nunca serão tão populares como os dos youtubers de sucesso. São jogos de voleibol de liceu, mensagens de parabéns, adolescentes asiáticas à conversa e outras coisas sem interesse para ninguém. Acompanhem-me numa nova incursão por sites que não servem para mais nada senão perder tempo.

O Astronaut.io, criado por Andrew Wong e James Thompson, mostra-nos vídeos do YouTube com menos de uma semana, títulos iguais ao nome do ficheiro original e zero visualizações. Vemos um segmento de alguns segundos e depois passamos para um novo vídeo.

A ideia é olhar para esses momentos arquivados no maior repositório de vídeo da Web como se fossemos astronautas de visita a outro planeta, mas é o nosso. Entramos em contacto com os pequenos momentos da espécie humana como se fosse a primeira vez. Vi um pouco de tudo: ensaios de peças de teatro, um miúdo a aprender a andar de skate enquanto o pai o incentivava, uma mulher a ler uma história infantil, serviços religiosos, desportistas de fim-de-semana e operários em fábricas.

Tanto estamos a passear em Évora, Rua 5 de Outubro acima, pela visão de uma câmara de um turista japonês como somos convidados de um casamento na China ou parte de um grupo de gente à conversa sentada em cadeiras de plástico minúsculas, à beira-rio.

A sucessão de pequenos eventos que não querem ser relevantes é o que dá o encanto a esta viagem e ajuda-nos a perceber que a realidade, sem os filtros glamorosos das redes sociais, é algo mundano. Em todo o lado a vida continua, feita das pequenas coisas que fazem o todo enorme que é a Humanidade. Podem ser chatas, repetitivas, podem não causar inveja, mas são a vida real, tal como ela é em toda a glória da sua banalidade.

A vossa experiência será diferente da minha, mas o essencial mantém-se. O vídeo que mais gostei foi de uma mulher vestida de preto, lenço vermelho na cabeça, a cantar em frente de uma parede branca: «Juntos podemos más, por qué estar separados». Não é preciso ser-se astronauta para perceber isso.

A mirar o espelho negro das redes sociais desde ainda antes de haver uma série de TV sobre isso.
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