‘Vê isto’

Por: Alexandre Gamela
Tempo de leitura: 2 min
Sankt

Os últimos meses têm sido difíceis. Perdi imensos amigos, muitos de forma inesperada. Não foi a epidemia que os levou mas algo ainda mais sinistro: uma ‘plandemia’.

Tudo começou com um imperativo ‘Vê isto’, anexado a um vídeo bloqueado, intitulado ‘Plandemic’. Não liguei mas, ao fim de meia dúzia de mensagens, não podia senão ver. Além disso, como o vídeo era removido de cada vez que o republicavam nas redes sociais, ainda tornava tudo mais misterioso.

Quando vi a razão de toda esta urgência, fiquei em choque. Não pelo conteúdo, mas pelo empenho que pessoas de quem eu gosto e respeito tiveram em disseminar uma manobra de promoção pessoal de gente com uma agenda perigosa para a saúde pública. Não vou falar da mensagem em si, já devem ter ouvido falar dela, mas resume-se a uma acção de propaganda assente numa teoria da conspiração disfarçada de denúncia. Só que a whistleblower não é uma mártir, nem está a denunciar nada.

Tentei explicar-lhes isto, até porque a mentira e a manipulação são dos meus temas favoritos na vida. Tenho formação jornalística e ganho a vida a construir mensagens com objectivos comerciais. Penso que, com a minha idade e experiência, sou capaz de detectar uma tanga quando me aparece à frente. Na maioria das vezes são fáceis de identificar pela forma, pelo tom, pelas pessoas envolvidas e objectivo da mensagem. Pelo cheiro. Não acreditaram no meu nariz.

Não os levo a mal, não lhes fiz um vídeo com música dramática em fundo, cheio de informação exclusiva e secreta que reconfortasse a sua insegurança. Os factos são inúteis quando a ficção é mais apelativa. Assim partiram, vítimas dessa doença para a qual ainda não há vacina e que só se resolve com distanciamento social. Paz à sua alma.

A mirar o espelho negro das redes sociais desde ainda antes de haver uma série de TV sobre isso.
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