Porque é que a ciência não nos consegue proteger de uma simples constipação?

Por: André Gonçalves
Tempo de leitura: 3 min
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É difícil de perceber a razão pela qual não conseguimos erradicar aquela que é a doença infectocontagiosa mais bem-sucedida do mundo (especialmente depois dos sucessos conseguidos com outras doenças, como a varíola ou a peste bovina). A constipação consegue enganar-nos a todos por uma simples razão: não é uma doença provocada por um vírus específico. Na realidade existem mais de duzentos vírus capazes de provocar no ser humano os sintomas que normalmente associamos a uma constipação ou resfriado. E cada um desses vírus utiliza uma estratégia genética e/ou química própria para enganar as defesas do nosso organismo.

Devido aos efeitos, raramente graves, per si, desta doença e tempo de recuperação relativamente baixo, aprendemos a viver e a aceitá-la como parte das nossas vidas. Acreditamos que o contacto físico próximo e a exposição a baixas temperaturas são as suas fontes de propagação, apesar de não existir uma verdadeira base científica a comprovar o facto. Mas, acima de tudo, gastamos anualmente bilhões de euros em medicamentos, sem receita médica, que prometem reforçar o nosso sistema imunitário e prevenir os efeitos da doença que, na realidade, têm uma eficácia quase nula quando comparada com um placebo.

Há mais de cem anos, que tentamos desenvolver uma vacina contra a doença respiratória, a que normalmente chamamos ‘constipação’ – e, na realidade, já o conseguimos fazer inúmeras vezes. O grande problema é que a sua eficácia só se comprova num número limitado de vírus ou num processo de inoculação em simultâneo com a infecção.

A criação de uma vacina é teoricamente possível e cientificamente sustentável, no entanto é tecnicamente complexa e, especialmente, comercialmente desinteressante, pois muito poucos estão interessados e podem pagar uma soma avultada por uma vacina que os protege contra as constipações. No entanto, muitos estão dispostos a um investimento recorrente, por duas ou três vezes por ano, ao logo de toda a vida numa série de medicamentos sem eficácia comprovada, para aliviar os sintomas da doença.

Logo, as únicas entidades que poderão viabilizar e costear a investigação necessária para o desenvolvimento desta vacina seriam os governos que tenham em consideração o aumento geral da produtividade e os menores custos de tratamentos clínicos num país livre de constipações. No entanto, e infelizmente para a maioria deles, existem outros investimentos e investigações mais relevantes a fazer na área da saúde.

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