É por estas (e por outras) que um dia me vou embora

Por: Pedro Aniceto
Tempo de leitura: 3 min
Apple

O meu Apple Watch finou-se. Morreu. Nem uma carta, um telefonema, um email… Despediu-se tristemente. Podia ter sido numa explosão de luz, cor e estilhaços de Gorilla Glass, mas não, quedou-se como um passarinho num update de sistema… Não acordou. Lembrou-me o papagaio dos Monty Python. Deixou de existir, foi visitar o Criador. Ainda não tive tempo para verdadeiramente me aborrecer com este assunto mas a Apple foi (para já) taxativa “Não conseguimos fazer o Restore, logo subsistem problemas de hardware que não são passíveis de cobertura de garantia” – que expirara um mês antes.

Como consumidor não me posso sentir mais defraudado. Fiz uma actualização de sistema recomendada pelo fabricante e essa mesma actualização “mata” o produto. O fabricante declina a responsabilidade e, hélas, pede-me 50% do valor de aquisição para me fornecer um produto substituto. Belo negócio, hein?

Isto sucede diariamente com milhares de produtos e não me espanta que a questão do ”Direito a reparar” esteja cada vez mais nas agendas dos consumidores e, consequentemente, na dos Governos e Instituições. Percebo que a miniaturização seja um óbice, percebo a dificuldade seja por vezes tremenda (noutros casos nem tanto), mas isto é uma violência incrível para com o consumidor médio que não tendo exercido mau uso se vê privado do usufruto, para não falar do custo do bem adquirido.

Ver mandar para reciclagem, equipamentos perfeitamente funcionais por falta de um componente que facilmente se pode adquirir no comércio tradicional é algo que não consigo conceber (pelo menos sem luta porque também já perdi algumas batalhas…). Estou por isso cada vez mais próximo das posições do “Direito a reparar” e cada vez mais contra o muro do “Nós é que mandamos na sua carteira”.

Despedi-me de um grande utilizador Apple. José Mário Branco, goste-se ou não do homem e da sua obra, era um grande criador que usava Apple como plataforma de trabalho. Alguém a quem um dia pedi autorização para usar um trecho da sua música para “cama” de um Podcast e a quem escutei uma longa dissertação sobre a palermice que ele achava que era eu estar a pedir autorização para usar um bem público e sobre a liberdade que todos deveríamos ter de usar, manipular e fazer evoluir algo que “só é obra minha até a deixar voar sozinha…”. Obrigado, José Mário Branco.

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